Qual é a classe de pelos?

A (aparente) inconstância gramatical de “pelo”: preposição + artigo ou advérbio?

A palavra “pelo”, frequentemente utilizada em português, apresenta uma peculiaridade gramatical que gera dúvidas: qual sua classe? A resposta simplista, muitas vezes encontrada, de que “pelo” é uma contração da preposição “por” e do artigo definido masculino “o” é parcialmente verdadeira, mas não abrange a totalidade de suas funções na língua. A complexidade reside na sua capacidade de atuar em diferentes contextos com nuances semânticas que afetam sua classificação gramatical.

De fato, em muitas ocasiões, “pelo” funciona como a junção de preposição + artigo. Observe os exemplos:

• “Pelo caminho, encontrei um amigo.” Aqui, “pelo” equivale a “por + o”, indicando movimento ao longo de algo. A preposição “por” denota o meio ou o instrumento, enquanto o artigo “o” especifica o caminho. Neste caso, a análise gramatical aponta para uma sequência prepositiva-artigo.

• “Lutei pelo meu país.” Similarmente, “pelo” significa “por + o”, com “por” indicando a causa ou o objetivo da luta, e “o” especificando o país. A função permanece a mesma: preposição + artigo.

No entanto, a consideração de “pelo” apenas como preposição + artigo é uma simplificação excessiva. Em alguns contextos, a expressão adquire um significado tão consolidado que funciona como uma unidade semântica, aproximando-se de um advérbio, especialmente quando indica causa ou motivo. Veja:

• “Ficou magoado pelo ocorrido.” Embora seja possível analisar como “por + o + ocorrido”, a expressão “pelo ocorrido” funciona quase como uma locução adverbial de causa, indicando o motivo da magoa. A indivisibilidade semântica torna a classificação como mera contração de preposição e artigo menos precisa.

• “Chorou pelo filho.” Similarmente, “pelo filho” expressa o motivo do choro, funcionando de forma quase adverbial, modificando o verbo “chorou”. A análise como uma simples junção de preposição e artigo aqui perde a sutileza da função na frase.

Portanto, afirmar categoricamente que “pelo” sempre é a contração de “por” e “o” é uma imprecisão. Embora essa análise seja válida em muitos casos, a sua função na frase e seu peso semântico devem ser considerados para uma classificação gramatical completa. Em alguns contextos, a expressão adquire um caráter adverbial, atuando como um modificador, enquanto em outros a análise como preposição + artigo se mostra mais adequada. A fluidez da língua portuguesa e a riqueza de seus recursos expressivos dificultam uma classificação rígida e definitiva para essa palavra, demonstrando a complexidade da análise sintática. É necessário um olhar atento ao contexto para determinar sua função e, consequentemente, sua classificação gramatical mais precisa.

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