Como classificar pois na primeira e na segunda frase?

6 visualizações

Em orações coordenadas explicativas, a segunda não expressa a causa real da primeira, mas uma justificativa ou esclarecimento. Não há relação de causa e consequência factual, mas sim uma explicação da afirmação anterior, uma causa de dicto, ou seja, do que foi dito.

Feedback 0 curtidas

A sutil diferença entre “pois” explicativo e causal: uma análise da conjunção em duas frases consecutivas

A conjunção “pois” apresenta uma dualidade interessante em sua função: ora introduz uma oração que explica a anterior, ora indica uma relação de causa e consequência. Distinguir esses usos, especialmente quando o “pois” conecta duas frases iniciais de um texto, requer atenção à semântica da relação estabelecida. Frequentemente, a interpretação correta depende do contexto e da intenção do autor.

Nesta análise, focaremos na distinção crucial entre o “pois” explicativo e o “pois” causal quando empregado para ligar as duas primeiras frases de um parágrafo ou texto. Em uma oração coordenada explicativa, o “pois” introduz uma justificativa, um esclarecimento da ideia precedente, sem estabelecer uma relação causal direta e factual entre os eventos descritos. A primeira frase apresenta um fato, e a segunda, uma explicação para sua compreensão, um desenvolvimento da ideia inicial. Imagine, por exemplo: “A reunião foi adiada. Pois o palestrante principal teve um imprevisto”. A primeira frase apresenta o fato; a segunda explica por que a informação é relevante, justificando o adiamento, mas não afirmando uma consequência direta e inevitável do imprevisto do palestrante. Outros fatores poderiam ter levado ao adiamento, mesmo sem o imprevisto. A relação é de justificativa, não de causa e efeito inevitável.

Em contraponto, em uma relação causal, o “pois” liga duas orações onde a segunda é consequência direta e inquestionável da primeira. A primeira frase apresenta uma causa, e a segunda, o efeito resultante dessa causa. Tomemos como exemplo: “Choveu muito durante a noite; pois as ruas estão alagadas”. Aqui, o alagamento das ruas é uma consequência direta e praticamente inevitável da forte chuva. Não há espaço para outras justificativas; a chuva causou o alagamento. A relação é de causa e efeito irrefutável.

A chave para a distinção reside na possibilidade de substituir o “pois” por outras conjunções. Em orações explicativas, podemos frequentemente substituir o “pois” por “porque”, “isto é”, “porquanto” ou “ou seja”, sem alterar o significado. Em orações causais, essa substituição pode alterar o sentido, tornando a frase artificial ou incorreta. A análise da relação entre as duas primeiras frases, verificando a possibilidade dessas substituições e a natureza da relação entre os eventos descritos, auxilia na identificação do uso do “pois” como explicativo ou causal. A prática e o refinamento da leitura crítica são essenciais para dominar essa nuance da língua portuguesa.