Como é a estrutura gramatical de Libras em comparação com a Língua Portuguesa?

9 visualizações

A Libras, ao contrário do português, é uma língua visual-espacial, não flexional. Sua estrutura gramatical utiliza a localização no espaço e a movimentação das mãos para transmitir informações gramaticais, como tempo e número, diferentemente da flexão de verbos e substantivos do português. A Libras emprega sinais, enquanto o português usa palavras.

Feedback 0 curtidas

Libras e Português: Mundos Gramaticais Distintos

Embora ambas sejam formas de comunicação ricas e complexas, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e o Português se diferenciam drasticamente em sua estrutura gramatical. Essa diferença fundamental reside no fato de que a Libras é uma língua visual-espacial, enquanto o Português é uma língua oral-auditiva. Essa característica impacta profundamente a maneira como a informação é codificada e transmitida em cada uma.

A Essência Visual-Espacial da Libras:

Na Libras, a informação não se limita apenas ao sinal em si, mas também à forma como ele é executado no espaço. A gramática da Libras se baseia em:

  • Configuração de Mão: O formato específico da mão ao realizar o sinal.
  • Localização: O ponto no corpo ou no espaço onde o sinal é executado.
  • Movimento: A trajetória e a direção do sinal.
  • Orientação da Palma da Mão: A direção para a qual a palma da mão está voltada.
  • Expressões Faciais e Corporais: Componentes cruciais que modulam o significado do sinal e adicionam informações gramaticais, como intensidade emocional, perguntas, negações, etc.

Ao contrário do Português, que se organiza linearmente através de palavras em sequência, a Libras utiliza o espaço para expressar relações gramaticais simultaneamente. Por exemplo, para indicar tempo verbal, a Libras pode usar marcadores espaciais: sinais direcionados para frente podem indicar futuro, para trás, passado, e no presente, o sinal pode ser executado no espaço neutro.

A Flexão e a Linearidade do Português:

O Português, por outro lado, depende fortemente da flexão de palavras (verbos conjugados, substantivos com gênero e número, etc.) e da ordem das palavras para transmitir significado. A estrutura frasal é linear, com sujeito, verbo e complemento geralmente seguindo uma ordem específica.

Enquanto a Libras pode expressar várias informações simultaneamente através do uso do espaço, o Português precisa sequenciar essas informações em palavras e frases.

Principais Diferenças Gramaticais em Foco:

  • Tempo e Aspecto: Em Português, usamos flexões verbais para indicar tempo (passado, presente, futuro) e aspecto (ação completa, em andamento, etc.). Em Libras, o tempo pode ser indicado por sinais específicos ou por marcadores espaciais, e o aspecto muitas vezes é inferido pelo contexto ou através da repetição do sinal.
  • Número: Em Português, adicionamos um “s” ao final da palavra para indicar plural (ex: casa -> casas). Em Libras, a repetição do sinal ou o uso de um classificador que representa múltiplos objetos pode indicar pluralidade.
  • Pronomes: Em Português, temos pronomes pessoais (eu, tu, ele, nós, vós, eles). Em Libras, o pronome pode ser indicado apontando para si mesmo, para a pessoa com quem se está falando, ou para o local onde a pessoa está, utilizando o “apontador”.
  • Ordem das Palavras: Embora a ordem das palavras em Português possa ser flexível, geralmente segue um padrão (SVO – Sujeito, Verbo, Objeto). Em Libras, a ordem dos sinais é mais flexível, mas a estrutura tópica-comentário (tópico primeiro, seguido de informações sobre ele) é comum.
  • Verbos: A conjugação verbal extensa do Português não tem equivalente direto em Libras. A Libras utiliza verbos que podem ser flexionados pela direção do movimento, expressando o sujeito e o objeto da ação.

Em Resumo:

A Libras e o Português representam abordagens fundamentalmente diferentes para a gramática. A Libras, com sua natureza visual-espacial, utiliza o espaço e o corpo para construir significado de forma simultânea, enquanto o Português se baseia na linearidade e flexão das palavras. Compreender essas diferenças é crucial para uma comunicação eficaz e para a valorização da Libras como uma língua complexa e rica em nuances.

É importante lembrar que a Libras não é uma mera tradução do Português para sinais. É uma língua autônoma com sua própria gramática, sintaxe e vocabulário. O reconhecimento e o respeito a essa autonomia são essenciais para a inclusão e a acessibilidade da comunidade surda.