Como identificar o pronome você?

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Apesar de frequentemente associado à terceira pessoa gramatical pela concordância verbal, o pronome você pertence à segunda pessoa do discurso, indicando o interlocutor diretamente. Sua utilização, no entanto, desconsidera a distinção formal entre tu e vós, prevalecendo a informalidade na língua portuguesa brasileira.

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O Enigma do “Você”: Uma Viagem Pela Segunda Pessoa do Discurso

A língua portuguesa, rica em nuances e variações, apresenta um caso peculiar em sua estrutura pronominal: o pronome “você”. Aparentando, à primeira vista, um comportamento de terceira pessoa devido à concordância verbal (ex: “Você é muito gentil”), ele, na verdade, se encaixa firmemente na segunda pessoa do discurso, dirigindo-se diretamente ao interlocutor. Essa aparente contradição é o que torna sua identificação tão interessante e, ao mesmo tempo, potencialmente confusa.

A chave para entender o enigma reside na história e na evolução da língua. O português antigo possuía um sistema pronominal mais completo para a segunda pessoa: “tu” (singular) e “vós” (plural). Com o passar do tempo, o uso de “vós” declinou, e “tu” passou a ser considerado, em muitos contextos, informal e até mesmo arcaico, ou restrito a regiões e dialetos específicos.

Foi nesse vácuo que “você”, originalmente um pronome de tratamento respeitoso (similar ao “Vossa Mercê”), ascendeu à posição de pronome de segunda pessoa informal predominante no Brasil. Sua adoção generalizada, contudo, trouxe consigo a particularidade da concordância verbal na terceira pessoa, criando a aparente incongruência que caracteriza seu uso.

Como identificar “você” inegavelmente como segunda pessoa?

Apesar da concordância verbal em terceira pessoa, alguns indícios apontam inequivocamente para a natureza de segunda pessoa do pronome “você”:

  • Contexto comunicativo: A própria situação da conversa, a relação entre os interlocutores e o tom da mensagem são fundamentais. Se o discurso é diretamente dirigido a alguém, a intenção é comunicar algo a essa pessoa, então “você” está claramente na segunda pessoa.

  • Formas de tratamento alternativas: A substituição de “você” por “tu” (em contextos informais onde este ainda é usado) ou por formas de tratamento formais como “o senhor” ou “a senhora” confirma sua função como pronome de segunda pessoa. A concordância verbal mudaria automaticamente.

  • Análise semântica: O sentido da frase, focado na interação direta entre o falante e o ouvinte, reforça a segunda pessoa, mesmo que a concordância verbal sugira outra coisa.

  • Uso de pronomes possessivos: A utilização de pronomes possessivos como “seu” e “sua” que acompanham “você” também indicam a segunda pessoa.

Em resumo, a identificação do pronome “você” como pertencente à segunda pessoa requer uma análise mais abrangente do que a mera concordância verbal. A compreensão de sua evolução histórica, aliada à análise contextual e semântica, revela sua verdadeira função na comunicação, desvendando o enigma deste pronome tão peculiar e fundamental da língua portuguesa brasileira. Não se trata apenas de uma questão gramatical, mas também de uma jornada pela história e pela dinâmica da nossa linguagem.