O que podemos entender por variação linguística?

11 visualizações

A língua não é monolítica; ela se manifesta em diversas variantes. Essas variações, ou diferenças, ocorrem em função de fatores geográficos, históricos, sociais e situacionais, resultando em múltiplos modos de expressão de uma mesma língua, configurando um sistema complexo e dinâmico.

Feedback 0 curtidas

A Língua em Movimento: Desvendando a Variação Linguística

A ideia de uma língua única e uniforme é uma simplificação perigosa. Na realidade, a língua é um organismo vivo, em constante transformação, manifestando-se em uma rica variedade de formas e estilos. Compreender a variação linguística é fundamental para desmistificar a noção de “certo” e “errado” e apreender a complexidade da comunicação humana. Afirmar que existe apenas uma forma “correta” de falar é ignorar a riqueza e a dinâmica inerente à linguagem.

A variação linguística se manifesta em diferentes níveis, interligados e influenciando-se mutuamente. Podemos analisá-la através de diferentes eixos:

1. Variação geográfica (diatópica): A língua se adapta ao espaço físico, originando dialetos e regionalismos. Expressões como “ônibus” (Brasil) e “autocarro” (Portugal), ou o uso de “tu” e “você” como pronomes de segunda pessoa, exemplificam variações geográficas que, embora distintas, não invalidam uma à outra. A distância geográfica influencia a evolução independente da língua, criando diferenças fonéticas, lexicais e gramaticais. Dentro de uma mesma região, podem existir variações ainda mais sutis, denominadas isolettos, que refletem particularidades de comunidades menores.

2. Variação histórica (diacrônica): A língua evolui ao longo do tempo. Palavras e expressões caem em desuso, novas são criadas, a gramática se transforma. Comparar o português arcaico com o português contemporâneo ilustra essa transformação contínua. Entender a variação diacrônica nos permite compreender a evolução da língua e suas raízes. O estudo de textos antigos, por exemplo, revela como a língua se modificou ao longo dos séculos.

3. Variação social (diastrática): A língua reflete a estrutura social. Diferentes grupos sociais, com base em fatores como classe, idade, gênero, etnia e nível de escolaridade, utilizam a língua de maneiras distintas. A linguagem de um grupo de jovens, por exemplo, frequentemente difere da linguagem empregada por pessoas mais velhas, apresentando gírias e expressões próprias. Essa variação não indica superioridade ou inferioridade linguística, mas sim a adaptação da língua às dinâmicas sociais.

4. Variação situacional (diafásica): O contexto comunicativo também influencia a forma como usamos a língua. Falamos de maneira diferente com amigos, em uma entrevista de emprego, numa aula ou numa reunião de negócios. A formalidade ou informalidade da situação determina a escolha lexical, a sintaxe e o tom da comunicação. Um mesmo indivíduo pode se expressar de forma extremamente formal em um contexto profissional e de forma extremamente informal com os amigos mais próximos.

É importante destacar que essas variações não são estanques; elas se inter-relacionam e se sobrepõem constantemente. A variação linguística é, portanto, um fenômeno complexo e multifacetado, que enriquece a língua e a torna instrumento capaz de expressar a diversidade da experiência humana. A compreensão da variação linguística é crucial para combater preconceitos linguísticos e promover uma visão mais inclusiva e respeitosa da comunicação. Em vez de buscar uma norma única e artificial, devemos valorizar a riqueza e a diversidade que a variação linguística oferece.