Quais são as três fases da linguística?

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A Linguística, para se tornar ciência, passou por três fases: a Gramática, a Filologia e a Gramática Comparada. Nesse percurso, a língua foi definida como seu objeto de estudo.

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As Três Fases da Linguística: Da Gramática à Comparação

A Linguística, enquanto campo de estudo científico da linguagem, não surgiu pronta e acabada. Seu desenvolvimento se deu ao longo de séculos, passando por três fases distintas que, embora interconectadas e com sobreposições, demonstram uma evolução gradual em seus métodos e objetivos: a fase gramatical, a filológica e a da gramática comparada. Compreender essas fases é fundamental para entender a própria estrutura da disciplina e sua complexidade.

1. A Fase Gramatical (Antiguidade Clássica – Século XVIII): Esta fase é marcada pela predominância de uma abordagem prescritiva da linguagem. Influenciada fortemente pela gramática grega e latina, o foco principal era definir regras e normas para o uso “correto” da língua, principalmente as línguas clássicas, visando a preservação de seu prestígio e pureza. Obras como as gramáticas de Prisciano e seus sucessores se encaixam nessa fase, preocupadas em estabelecer padrões de sintaxe, morfologia e ortografia, muitas vezes com pouca ou nenhuma análise da língua em seu uso real. A língua era vista como um sistema estático e imutável, a ser seguido rigorosamente. A observação empírica da língua era secundária à busca pela norma ideal. Esse período também viu o florescimento de estudos retóricos, fortemente ligados à gramática normativa, voltado para o aprimoramento da oratória e da escrita.

2. A Fase Filológica (Século XVIII – XIX): Com o advento do Romantismo e o interesse crescente pelo estudo das línguas antigas e modernas, a Linguística começa a mudar de foco. A Filologia surge como uma reação à abordagem puramente prescritiva da fase anterior. Os filólogos, interessados em desvendar a história e a evolução das línguas, passaram a analisar textos antigos, levando em consideração seus contextos históricos e culturais. O estudo comparativo de diferentes manuscritos, a reconstrução de formas antigas e a etimologia passaram a ser ferramentas cruciais. Ainda que a norma continuasse a ser importante, a atenção se voltou para a dimensão histórica e diacrônica da língua, reconhecendo sua mutabilidade e evolução ao longo do tempo. Destacam-se figuras como Rasmus Rask e Jacob Grimm, pioneiros na investigação das relações entre as línguas germânicas. No entanto, a análise ainda era predominantemente baseada em textos escritos, com menor ênfase na fala.

3. A Fase da Gramática Comparada (Século XIX – XX): Esta fase representa um avanço significativo na sistematização da Linguística como ciência. A gramática comparada, impulsionada pelas descobertas filológicas, buscava estabelecer relações genealógicas entre as línguas, reconstruindo proto-línguas e traçando árvores filogenéticas. O método comparativo, fundamentado na análise de semelhanças e diferenças sistemáticas entre as línguas, permitiu reconstruir estágios anteriores da evolução linguística, revelando conexões até então desconhecidas. A influência de figuras como William Jones, que notou a relação entre o sânscrito e as línguas europeias, foi crucial para o desenvolvimento dessa abordagem. Essa fase deu origem à linguística histórica comparativa, que, combinada com o desenvolvimento da fonologia e da morfologia históricas, lançou as bases para a linguística moderna. Embora ainda limitada por uma perspectiva essencialmente histórica, a gramática comparada inaugurou uma nova era na compreensão da linguagem como um sistema complexo e dinâmico, sujeito a mudanças sistemáticas ao longo do tempo.

Concluindo, a evolução da Linguística por essas três fases demonstra uma trajetória gradual de uma abordagem prescritiva e normativa a uma perspectiva científica, histórica e comparativa, que, por sua vez, abriu caminho para as diversas ramificações da linguística contemporânea. Cada fase, embora com suas limitações, contribuiu de forma decisiva para a construção do conhecimento sobre a linguagem humana e sua complexa estrutura.