Quanta saudade ou quanta saudades?

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A dúvida entre saudade e saudades é comum. Ambas as formas estão corretas gramaticalmente. Saudade é o singular, enquanto saudades indica o plural, assim como ocorre com outros substantivos abstratos na língua portuguesa. A escolha entre uma e outra depende do contexto e da intenção do falante.

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Saudade ou Saudades? Uma Questão de Sentimento (e Gramática)

A língua portuguesa, rica em nuances e sutilezas, nos presenteia com dilemas gramaticais que, muitas vezes, refletem a complexidade da própria experiência humana. Um desses dilemas, bastante comum e gerador de dúvidas, é a escolha entre “saudade” e “saudades”. A resposta, como veremos, não é tão simples quanto um mero “singular e plural”.

A afirmação de que “saudade” é o singular e “saudades” o plural é, em parte, verdadeira, mas não abarca toda a riqueza semântica envolvida. Gramaticalmente, sim, seguimos a lógica de substantivos abstratos como “alegria” e “alegrias”. Contudo, a escolha entre uma forma e outra transcende a simples contagem de objetos da saudade. Ela está intrinsecamente ligada à intensidade e à abrangência do sentimento.

Utilizamos “saudade” quando o objeto da saudade é único e bem definido. Por exemplo: “Sinto muita saudade do meu avô.” Aqui, a saudade é direcionada a uma pessoa específica, criando uma relação singular. A intensidade da saudade pode ser grande, mas o foco é único. Também é comum usar “saudade” quando se fala de um período específico do passado: “Tenho saudade da minha infância”.

Já “saudades”, geralmente, indica uma multiplicidade de objetos da saudade ou uma saudade mais difusa, abrangendo diversos aspectos ou pessoas. “Tenho saudades da minha família, dos amigos, da minha cidade.” Neste caso, a saudade engloba múltiplos elementos, justificando o uso do plural. Podemos sentir saudades de momentos, lugares, pessoas, costumes, enfim, de um conjunto de coisas ou lembranças. A multiplicidade, neste caso, não é necessariamente contável, mas sim um sentimento que abrange várias áreas da vida.

No entanto, a linha divisória entre “saudade” e “saudades” não é sempre tão clara. É perfeitamente aceitável, em muitos contextos, usar “saudades” mesmo quando o objeto da saudade é único, principalmente para expressar uma intensidade maior do sentimento. “Tenho muitas saudades de você”, por exemplo, expressa uma saudade mais profunda e intensa do que “Tenho muita saudade de você”. Aqui, o plural funciona como um intensificador.

Em resumo, enquanto a gramática nos guia para o uso de “saudade” no singular e “saudades” no plural, a escolha final reside na nuance que se quer transmitir. A intensidade do sentimento, a abrangência dos objetos da saudade e o tom da expressão são fatores que influenciam a escolha entre “saudade” e “saudades”, demonstrando mais uma vez a riqueza e a flexibilidade da nossa língua. A dúvida é permitida, a escolha é pessoal, e ambas as formas são corretas, dependendo do contexto.