Como é considerada a língua portuguesa em Angola?

A Língua Portuguesa em Angola: Um Idioma Dominante em Constante Evolução

Embora a história de Angola esteja intrinsecamente ligada à língua portuguesa desde o período colonial, a relação entre o país e o idioma é complexa e dinâmica, moldada por fatores sociais, políticos e culturais. Longe de ser apenas uma herança do passado, o português em Angola é uma força viva, em constante evolução e adaptação, que desempenha um papel crucial na identidade nacional e no panorama linguístico do país.

Ao contrário de um cenário onde a língua portuguesa é imposta de cima para baixo, Angola apresenta uma realidade onde, apesar da ausência de uma política linguística explícita e focada no português, ele se consolidou como a língua franca. O censo de 2014 revelou que 71% da população angolana utiliza o português como língua materna, um número que demonstra a sua predominância e a sua importância na comunicação diária. Este dado, no entanto, não conta toda a história.

Mais do que apenas números: A Complexidade da Língua Portuguesa Angolana

É fundamental compreender que o “português falado em Angola” não é uma entidade monolítica. Ele se manifesta em diferentes variantes, desde o português padrão, utilizado em contextos formais como a educação e a mídia, até o português popular angolano (PPA). O PPA é uma forma de português influenciada pelas línguas bantu, os idiomas autóctones de Angola, resultando em particularidades lexicais, fonéticas e sintáticas que o distinguem do português europeu.

Essa influência das línguas bantu não é vista como uma “corrupção” da língua portuguesa, mas sim como um processo natural de crioulização, onde o português se enriquece e se adapta ao contexto local. Palavras e expressões de origem kimbundu, kikongo e outras línguas bantu se infiltram no vocabulário cotidiano, dando ao português angolano um sabor único e inconfundível.

A Língua Portuguesa como Ferramenta de Unidade e Inclusão

Num país com uma vasta diversidade linguística, onde se falam mais de 40 idiomas diferentes, o português serve como um elo de ligação, facilitando a comunicação entre diferentes grupos étnicos e regiões. Ele é a língua da administração pública, da justiça, da educação e dos meios de comunicação, desempenhando um papel crucial na construção da unidade nacional.

No entanto, é importante reconhecer que nem todos os angolanos dominam o português com a mesma fluência. Para muitas pessoas, especialmente em áreas rurais, o português é a segunda língua, aprendida na escola ou através do contato com o mundo exterior. Neste contexto, o desafio reside em garantir o acesso à educação e à aprendizagem do português para todos, sem, no entanto, negligenciar o valor e a importância das línguas nacionais.

O Futuro da Língua Portuguesa em Angola

O futuro da língua portuguesa em Angola é promissor, mas também requer atenção e planejamento. É crucial que o país desenvolva uma política linguística abrangente que reconheça e valorize a diversidade linguística angolana, ao mesmo tempo que promove o domínio do português como língua oficial e ferramenta de desenvolvimento social e econômico.

Essa política deve incluir:

• Apoio à pesquisa e ao estudo da língua portuguesa angolana, incluindo o PPA e as suas variantes regionais.
• Formação de professores qualificados para ensinar português em todos os níveis de ensino, com ênfase na realidade linguística angolana.
• Incentivo à produção literária e artística em português angolano, promovendo a sua visibilidade e o seu reconhecimento como forma de expressão cultural legítima.
• Promoção do multilinguismo, valorizando as línguas bantu e incentivando o seu ensino nas escolas.

Ao investir na educação linguística e no reconhecimento da riqueza da sua diversidade cultural, Angola poderá consolidar o português como uma língua de unidade, inclusão e desenvolvimento, ao mesmo tempo que preserva e valoriza o seu patrimônio linguístico único. O futuro da língua portuguesa em Angola reside, portanto, na capacidade de equilibrar a herança do passado com as necessidades do presente, construindo um futuro linguístico onde todas as vozes possam ser ouvidas e valorizadas.