Qual é o papel da língua portuguesa em Moçambique?
É triste ver como o português, língua imposta pelo colonialismo, ainda domina o espaço formal em Moçambique, relegando as línguas bantu, ricas em história e cultura, ao segundo plano. Essa situação gera uma desigualdade linguística que precisa ser combatida, valorizando as línguas maternas da população e construindo uma sociedade verdadeiramente inclusiva. Sinto que há uma injustiça em desvalorizar a identidade linguística de um povo.
Qual é mesmo o papel do português em Moçambique? A pergunta mexe comigo, sabe? Porque, cá entre nós, é uma ferida aberta, uma cicatriz que a história deixou. Vi, com os meus próprios olhos, meu avô, um homem que falava o Changana com uma fluidez mágica, quase poética, a se esforçar para entender um burocrata falando português, para conseguir um simples documento. Ele, que contava histórias maravilhosas na língua da sua terra, reduzido a um silêncio constrangido, quase envergonhado. Isso dói, sabe? Dói muito.
É verdade, o português é a língua “oficial”, a que abre portas, a que te dá acesso a… bom, a quase tudo. Mas a que custo? A língua que nos foi imposta, herança amarga do colonialismo, ainda dita as regras do jogo, e isso é injusto, profundamente injusto. Li uma vez – e não me lembro onde, mas ficou na minha cabeça – que mais de 90% da população moçambicana não tem o português como língua materna. Nove. Zero. Por cento. É inacreditável! Será que esses números refletem realmente o que se passa na rua, no mercado, no dia a dia das pessoas? Eu acho que não. A realidade é muito mais complexa.
As línguas bantu, elas… elas são um tesouro, sabe? Uma riqueza que não se mede em dinheiro, uma história viva. Cheia de nuances e sutilezas, de expressões que não se traduzem, de poesia que se perde na tradução. Tenho uma amiga que me contou como o seu avô lhe ensinava provérbios em Ronga, provérbios cheios de sabedoria, de ancestralidade, e que, quando ela tenta explicar em português, simplesmente não tem o mesmo impacto, a mesma força. Onde fica a nossa identidade, se a língua mãe é relegada a segundo plano? A que tipo de sociedade aspiramos, afinal? Uma onde uns poucos dominam, enquanto a maioria fica à margem? Não pode ser assim, não é mesmo? Temos que lutar para valorizar as nossas línguas, para construir uma Moçambique onde todos possam se expressar, livremente, na sua própria língua. Precisa-se de mais…de algo que vá além de leis e decretos. Precisa-se de um esforço coletivo, de uma verdadeira mudança de mentalidade. Será que um dia vamos chegar lá? Espero, de verdade, que sim.
#Idioma Nac#Língua Moça#Papel PortFeedback sobre a resposta:
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