Como identificar a presença do narrador no texto?

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A presença do narrador como personagem se revela pelo uso da primeira pessoa (eu, nós, meu, nosso) na narrativa. Verbos como encontrei ou fiz, conjugados na primeira pessoa, e pronomes/determinantes possessivos correspondentes, confirmam sua participação direta na história.

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Desvendando a Voz Oculta: Como Identificar a Presença do Narrador no Texto (Além do Óbvio)

Identificar a presença do narrador em um texto é fundamental para compreendermos a perspectiva da história, o tom utilizado e a mensagem que o autor deseja transmitir. Embora a identificação do narrador-personagem, aquele que participa ativamente da trama e utiliza a primeira pessoa (“eu encontrei”, “nós fizemos”), seja relativamente direta, existem nuances e sutilezas que podem nos ajudar a aprofundar essa análise.

Indo Além do “Eu”: As Pistas Indiretas da Narração

Enquanto a utilização da primeira pessoa é um indicativo claro, a ausência dela não significa necessariamente que o narrador seja onisciente ou onipresente. Narradores em terceira pessoa também podem deixar rastros de sua presença, influenciando a forma como a história é contada e percebida pelo leitor. Vejamos algumas pistas:

  1. O Tom e a Linguagem: A escolha das palavras, a utilização de figuras de linguagem, a cadência da frase… Tudo isso revela a voz do narrador. Um texto com linguagem rebuscada e metáforas complexas sugere um narrador com um nível de erudição elevado, enquanto uma linguagem simples e direta pode indicar um narrador mais próximo do senso comum.

  2. Comentários e Opiniões: Mesmo em narrativas em terceira pessoa, o narrador pode inserir comentários ou opiniões sobre os personagens, os acontecimentos ou o ambiente. Esses comentários, mesmo que sutis, demonstram um ponto de vista particular e evidenciam a presença de um narrador que não é apenas um observador imparcial. Por exemplo: “Maria, pobre criatura, não imaginava o que a esperava…” A expressão “pobre criatura” revela a compaixão do narrador por Maria.

  3. Focalização Seletiva: O narrador, mesmo que não participe da história, escolhe quais personagens e quais eventos serão o foco da narrativa. Essa escolha é fundamental para a construção do sentido do texto. A atenção dedicada a um determinado personagem, a descrição detalhada de seus pensamentos e sentimentos, e a omissão de outros, mostram a direção que o narrador deseja que o leitor siga.

  4. Manipulação do Tempo: A forma como o narrador manipula o tempo da história também é reveladora. Utilização de flashbacks, flashforwards, elipses e pausas narrativas indicam uma escolha consciente do narrador em controlar o ritmo e a sequência dos eventos, influenciando a percepção do leitor.

  5. Humor e Ironia: O uso do humor e da ironia são fortes indicadores da presença de um narrador com uma perspectiva particular sobre os eventos. A ironia, em especial, demonstra um distanciamento crítico do narrador em relação àquilo que está sendo narrado.

Em Resumo:

Identificar a presença do narrador vai além de procurar o “eu” na história. É um exercício de atenção à linguagem, ao tom, às escolhas narrativas e à perspectiva que permeia o texto. Ao reconhecer as pistas indiretas da narração, podemos compreender mais profundamente a mensagem que o autor deseja transmitir e a forma como ele constrói o sentido da narrativa. Lembre-se: cada escolha narrativa é uma pegada deixada pelo narrador, esperando para ser descoberta pelo leitor atento.

Dica Final:

Ao analisar um texto, pergunte-se:

  • Qual a impressão que o narrador me passa?
  • Ele parece confiável?
  • Ele tem alguma opinião sobre os personagens ou os eventos?
  • Como ele manipula o tempo da história?

As respostas a essas perguntas o ajudarão a desvendar a voz oculta que guia a narrativa e a compreender o papel fundamental do narrador na construção do significado do texto.