Como se dá o ensino de Língua Portuguesa para surdos?

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O ensino tradicional de português para surdos, baseado na concepção de língua como código, priorizava a memorização de vocabulário e a construção de frases, iniciando com estruturas simples e progredindo gradualmente para estruturas mais complexas. Esse método, ainda presente em diversas escolas, focava na sintaxe e morfologia, negligenciando aspectos comunicativos e pragmáticos da língua.

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Ensinando Língua Portuguesa para Surdos: Uma Abordagem Além do Código

O ensino de Língua Portuguesa para surdos atravessa um processo de transformação profunda, rompendo com paradigmas tradicionais que priorizavam a memorização mecânica de regras gramaticais em detrimento da comunicação real. Embora a abordagem tradicional, centrada na sintaxe e morfologia, ainda persista em alguns contextos, uma nova perspectiva vem ganhando espaço, reconhecendo a língua como um instrumento de interação social e cultural, e não apenas um conjunto de regras a serem decifradas.

A abordagem tradicional, como mencionado, baseava-se na concepção da língua como código. O aprendizado se dava pela apresentação de estruturas sintáticas, do mais simples para o mais complexo, com ênfase na memorização de vocabulário e na construção de frases corretas. Exercícios de tradução de português para Libras (Língua Brasileira de Sinais) e vice-versa eram comuns, muitas vezes sem considerar o contexto comunicativo. Este método, apesar de fornecer uma base gramatical, frequentemente resultava em dificuldades para os alunos na aplicação prática da língua, limitando sua fluência e capacidade de expressão autêntica em situações reais. A ênfase na forma escrita, muitas vezes descolada da oralidade e da experiência vivencial, contribuía para a construção de um conhecimento fragmentado e pouco significativo.

A mudança de paradigma para uma abordagem comunicativa implica na valorização da interação, da contextualização e da significação. Métodos como o ensino baseado em tarefas (Task-Based Language Teaching – TBLT) e o enfoque comunicativo ganham destaque. Nesta perspectiva, o aluno é o centro do processo, participando ativamente da construção do seu próprio conhecimento. As atividades de sala de aula são projetadas para simular situações comunicativas reais, exigindo a utilização da língua portuguesa em contextos significativos, como narrar experiências pessoais, debater temas relevantes e produzir textos com diferentes propósitos.

A inclusão da Libras no processo de ensino também é fundamental. Reconhecendo a Libras como a língua natural dos surdos, sua integração permite que os alunos utilizem seus recursos linguísticos prévios como base para a aquisição da Língua Portuguesa. A tradução direta e a comparação entre as duas línguas podem ser ferramentas eficazes, desde que mediadas pedagogicamente, de forma a evitar a simples transposição de estruturas de uma língua para outra, favorecendo a compreensão das diferenças e nuances de cada sistema linguístico.

Além disso, o uso de recursos visuais, como imagens, vídeos e objetos concretos, torna o aprendizado mais acessível e significativo, auxiliando na compreensão de conceitos abstratos e na construção de significado. A utilização de tecnologias assistivas e plataformas digitais também contribui para a diversificação das estratégias de ensino e para a personalização do aprendizado.

Em resumo, o ensino de Língua Portuguesa para surdos demanda uma abordagem holística, que transcenda a simples memorização de regras e contemple a dimensão comunicativa e sociocultural da língua. A integração da Libras, a utilização de métodos comunicativos, o recurso a materiais visuais e o foco na interação são elementos essenciais para garantir um aprendizado significativo e inclusivo, preparando os alunos surdos para uma participação plena na sociedade. A formação continuada dos professores, com foco em metodologias específicas para o público surdo, é igualmente crucial para a efetivação dessas mudanças.