É correto dizer ambas as duas?
A expressão ambos os dois é gramaticalmente correta, apesar de soar estranha. Esta afirmação é apoiada pelo estudioso Deonísio da Silva, que cita trecho de Rui Barbosa para comprová-la.
“Ambos os dois”: Um Pleonasmo Aceitável ou um Descuido Linguístico?
A língua portuguesa, rica em nuances e peculiaridades, frequentemente nos coloca diante de questionamentos sobre o que é “correto” e o que é apenas “aceitável”. Um exemplo clássico dessa dualidade é a expressão “ambos os dois”. Ao ouvirmos, a primeira impressão é de redundância, um eco que soa estranho aos ouvidos mais atentos à gramática. Mas será que essa impressão reflete a totalidade da verdade?
A resposta, como frequentemente acontece na linguística, não é tão simples quanto um sim ou não. A verdade é que, sim, a expressão “ambos os dois” é gramaticalmente correta, embora seu uso seja considerado redundante e, por isso, evitado por muitos. Essa aceitação se apoia no fato de que a língua, mais do que um conjunto de regras inflexíveis, é um organismo vivo, moldado pelo uso e pelas necessidades de expressão de seus falantes.
A Força da Tradição e a Validação de Autores Renomados
O que permite a “ambos os dois” escapar da condenação sumária ao reino dos erros gramaticais é a sua presença na literatura e na fala de autores consagrados da língua portuguesa. Como você mencionou, o estudioso Deonísio da Silva, amparado em exemplos de Rui Barbosa, demonstra que a expressão não é uma invenção recente, mas sim uma construção que encontra respaldo em figuras de grande importância para a nossa língua.
A inclusão dos artigos definidos (“os dois”) após o pronome “ambos” pode ser vista como uma intensificação, um reforço da ideia de totalidade que o “ambos” já carrega em si. Em alguns contextos, essa ênfase pode ser útil para evitar ambiguidades ou para dar um toque mais enfático à frase.
O Contexto é Rei: Quando Usar (e Quando Evitar) “Ambos os Dois”
A chave para o uso adequado de “ambos os dois” reside, portanto, no contexto. Em situações formais, em textos que prezam pela concisão e elegância, a expressão deve ser evitada. A redundância pode soar como falta de domínio da língua ou como um artifício desnecessário.
No entanto, em conversas informais, em textos literários que buscam um efeito específico, ou em situações em que a ênfase é fundamental, “ambos os dois” pode ser utilizado sem medo de incorrer em um erro grave. O importante é ter consciência da redundância e avaliar se ela serve ao propósito da comunicação.
Em Resumo:
- “Ambos os dois” é gramaticalmente correto, embora redundante.
- Seu uso é validado pela presença em obras de autores renomados.
- Em contextos formais, priorize a forma mais concisa (“ambos”).
- Em contextos informais ou para enfatizar, “ambos os dois” pode ser utilizado com parcimônia.
Em última análise, a escolha entre “ambos” e “ambos os dois” é uma questão de estilo e de adequação ao contexto. Conhecer as nuances da língua portuguesa nos permite tomar decisões conscientes, utilizando as ferramentas que temos à disposição para expressar nossas ideias da forma mais eficaz e impactante possível. Lembre-se: o objetivo final é comunicar, e a língua, com suas regras e exceções, é apenas o meio para atingir esse objetivo.
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