É correto dizer falar Libras?

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Não é correto dizer falar Libras. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua visual-espacial e gestual, não falada.
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A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é frequentemente alvo de um equívoco comum: a utilização do verbo falar para descrever sua prática. Ouvimos com frequência pessoas dizendo falar Libras, uma expressão que, embora difundida, não reflete a verdadeira natureza dessa língua. Afinal, Libras não é uma língua sonora, baseada na oralidade, mas sim visual-espacial, construída a partir de sinais realizados com as mãos, expressões faciais e corporais. Portanto, o correto é dizer comunicar-se em Libras ou usar Libras, reconhecendo sua modalidade visual e diferenciando-a das línguas orais-auditivas.

Essa diferenciação não é mera questão de purismo linguístico. Ela carrega consigo um profundo significado para a comunidade surda e para a compreensão da própria Libras como língua. Dizer falar Libras implica, ainda que inconscientemente, em enquadrá-la nos moldes das línguas orais, ignorando sua estrutura e gramática próprias, bem como a riqueza cultural que a envolve. É como tentar encaixar uma peça de quebra-cabeça no lugar errado: a força pode até fazê-la parecer encaixada, mas a imagem final ficará distorcida.

Libras possui sua própria sintaxe, semântica e pragmática, distintas da língua portuguesa. A construção das frases, a ordem dos elementos e a própria significação dos sinais não seguem a mesma lógica da oralidade. As expressões faciais e corporais, muitas vezes imperceptíveis para quem não domina a língua, desempenham um papel fundamental na construção do significado, atuando como marcadores gramaticais, advérbios, adjetivos e até mesmo verbos. Imagine, por exemplo, a diferença entre narrar uma história com entusiasmo e narrá-la com tristeza: em Libras, essa diferença não se dá apenas na escolha dos sinais para entusiasmo e tristeza, mas na própria expressão facial e corporal do sinalizante.

A insistência em usar o verbo falar para Libras contribui para a sua invisibilização e perpetua a ideia equivocada de que se trata de uma mera mímica ou gestualização da língua portuguesa. Essa percepção errônea minimiza a complexidade e a riqueza da Libras, reforçando preconceitos e dificultando o seu reconhecimento como uma língua plena e legítima. Além disso, desconsidera a experiência visual dos surdos, que percebem o mundo e se comunicam por meio de uma modalidade diferente da auditiva.

Aprender a dizer comunicar-se em Libras ou usar Libras é um pequeno gesto, mas que representa um grande passo para a inclusão e o respeito à comunidade surda. Demonstra a compreensão de que Libras não é uma versão simplificada ou incompleta da língua portuguesa, mas sim uma língua completa e complexa, com sua própria estrutura, gramática e cultura. É um reconhecimento da diversidade linguística e da importância de valorizar as diferentes formas de comunicação.

Portanto, da próxima vez que for se referir à Língua Brasileira de Sinais, lembre-se: não se fala Libras, comunica-se em Libras. Essa simples mudança de vocabulário contribui para a desconstrução de preconceitos, promove a inclusão e demonstra respeito pela comunidade surda e sua rica cultura. É um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde todas as formas de comunicação sejam valorizadas e respeitadas.