O que é a sintaxe de regência?

Desvendando a Sintaxe de Regência: Mais que Regras, Relações de Sentido

A sintaxe da língua portuguesa, frequentemente vista como um conjunto de regras rígidas, revela-se, ao ser analisada a fundo, um sistema complexo e dinâmico de relações entre palavras. Dentro desse sistema, a sintaxe de regência ocupa um lugar de destaque, governando a harmonia e a precisão da comunicação. Ela não se limita a uma mera lista de preposições obrigatórias; antes, descreve a dependência semântica e sintática entre um termo regente (verbo ou nome) e seus complementos.

Diferentemente de uma simples concordância nominal ou verbal, a regência se preocupa com a ligação significativa entre termos. Ela responde à pergunta: como o termo regente “governa” seus complementos? Essa “governança” se manifesta na escolha de preposições (ou na ausência delas), definindo nuances semânticas e, consequentemente, alterando o sentido da frase.

Imagine, por exemplo, a palavra “assistir”. Assistir a algo significa presenciar, observar; já assistir algo implica cuidar, ajudar. A simples mudança da preposição – ou da sua omissão – transforma radicalmente o significado:

• Assisti ao filme com atenção. (Presenciar)
• Assisti meus pais na velhice. (Cuidar)

Essa diferença crucial ilustra a importância da regência na construção de enunciados claros e inequívocos. A incorreção na regência pode levar a ambiguidades, incompreensões, ou até mesmo a um completo desvio de sentido, comprometendo a eficácia da comunicação.

A regência verbal, que trata da relação entre verbos e seus complementos, é frequentemente o foco dos estudos, devido à maior variedade de possibilidades e à frequente ocorrência de erros. No entanto, a regência nominal, que abrange a relação entre nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) e seus complementos, também é fundamental para a construção de frases bem formadas. Observe a diferença entre:

• Ele é capaz de grandes feitos. (Regência do adjetivo “capaz”)
• Ele tem capacidade para grandes feitos. (Regência do substantivo “capacidade”)

A sintaxe de regência, portanto, não é um conjunto de regras arbitrárias a serem memorizadas, mas um sistema que reflete as relações semânticas intrínsecas à língua. Dominá-la implica compreender como as palavras se conectam e influenciam mutuamente, construindo um significado preciso e coerente. A aprendizagem da regência exige, além da memorização de algumas regências mais comuns, a capacidade de analisar o contexto e a semântica das palavras para garantir a clareza e a precisão da mensagem. Um bom entendimento da regência é, portanto, essencial para uma comunicação eficaz e expressiva na língua portuguesa.