Por que o verbo ser é irregular?

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O verbo ser, derivado dos latinos esse e sedere, apresenta variações radicais (s-, er-, f-). Somos, era e fui refletem a influência de esse, enquanto seja e serei ligam-se a sedere.

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A Irregularidade do Verbo Ser: Uma Jornada pela História da Língua

O verbo “ser”, pedra fundamental da gramática portuguesa, apresenta uma irregularidade notória que intriga estudantes e fascina linguistas. Diferentemente dos verbos regulares, que seguem padrões previsíveis de conjugação, “ser” exibe uma variedade de formas radicais, um reflexo de sua complexa trajetória histórica e da fusão de diferentes origens latinas. A explicação para sua irregularidade não reside em um único fator, mas sim na convergência de múltiplas influências linguísticas ao longo dos séculos.

A raiz do problema, literalmente, encontra-se na língua latina. O verbo “ser” em português não deriva de uma única forma latina, mas sim da combinação de dois verbos distintos: esse (indicativo presente: sum, es, est, sumus, estis, sunt) e sedere (sentar). Essa dupla herança é a chave para entender a sua peculiaridade.

A forma esse, o mais importante dos dois, contribuiu significativamente para a conjugação do presente do indicativo. Observemos:

  • Sou: A forma “sou” guarda resquícios de sum, embora sofrendo alterações fonéticas ao longo da evolução da língua.
  • És: Similarmente, “és” reflete a forma latina es.
  • É: “É” mantém uma maior proximidade com o est latino.
  • Somos: A plural “somos” deriva diretamente de sumus.
  • Sois: “Sois”, embora arcaico, também tem origem em estis.
  • São: “São” deriva de sunt.

Já o verbo sedere (sentar), surpreendentemente, influenciou a conjugação de outras formas do verbo “ser” em português. Note a relação com:

  • Serei: A raiz “ser-” presente nesta forma conjuga a ideia de futuro e conecta-se etimologicamente a sedere.
  • Seja: Similarmente, “seja” (presente do subjuntivo) demonstra a influência de sedere.

A fusão dessas duas raízes latinas não resultou numa conjugação uniforme. Ao invés disso, criou um sistema de flexões complexas e aparentemente aleatórias, com variações radicais (s-, er-, f-) que refletem as diferentes origens. A forma “fui”, por exemplo, não apresenta uma relação direta com esse ou sedere, mas sim uma evolução fonética e morfológica complexa dentro da própria língua portuguesa, tornando-se um exemplo da dinâmica transformação da linguagem ao longo do tempo.

Em resumo, a irregularidade do verbo “ser” não é um erro ou uma anomalia, mas sim um testemunho rico e fascinante da história da língua portuguesa, revelando a interação e a fusão de diferentes influências linguísticas e processos fonéticos que moldaram a estrutura gramatical que usamos hoje. Sua complexidade é uma janela para a compreensão da evolução da linguagem e da riqueza das suas origens.

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