Porque Libras é uma língua natural?
Libras é uma língua natural por surgir espontaneamente da interação entre surdos, desenvolvendo estrutura complexa para expressar qualquer conceito, do concreto ao abstrato. Ao contrário do que muitos pensam, nem todos os sinais são icônicos; exemplos de sinais com alguma iconicidade são correr e queijo, mas a maioria possui estrutura arbitrária como nas línguas orais.
Por que a Libras é uma língua natural? Desvendando a complexidade por trás dos sinais
A Língua Brasileira de Sinais (Libras) frequentemente é alvo de equívocos. Muitos a veem como um conjunto de gestos ou mímicas, uma forma simplificada de comunicação para surdos, ou até mesmo uma representação visual do português. No entanto, a Libras é muito mais do que isso: é uma língua natural, complexa e rica, com estrutura própria e independente de qualquer outra língua, inclusive do português. Mas o que a caracteriza como natural?
A naturalidade da Libras reside, primordialmente, em sua gênese espontânea. Assim como as línguas orais, ela surgiu da necessidade de comunicação entre indivíduos, neste caso, a comunidade surda. Ao longo do tempo, essa interação foi moldando e lapidando a língua, criando um sistema sofisticado e completo, capaz de expressar qualquer conceito, desde os mais concretos, como “casa” ou “comer”, até os mais abstratos, como “amor”, “justiça” ou “democracia”.
Um ponto crucial para compreender a complexidade da Libras é entender que a maioria dos seus sinais não são icônicos, ou seja, não representam diretamente o objeto ou ação a que se referem. Embora alguns sinais possuam um certo grau de iconicidade, facilitando a compreensão inicial – como os sinais para “correr” ou “queijo”, que mimetizam o movimento ou a forma do objeto – a grande maioria apresenta uma estrutura arbitrária, assim como nas línguas orais. A relação entre o sinal e seu significado é convencional, estabelecida pela comunidade linguística, e não por uma semelhança visual óbvia. Imagine, por exemplo, o sinal para “aprender”: ele não imita o ato de estudar, mas sim carrega um significado construído e compartilhado pelos usuários da Libras.
Além da arbitrariedade, a Libras possui todos os níveis linguísticos presentes nas línguas orais: fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. No nível fonológico, os sinais são formados por cinco parâmetros: configuração de mão, ponto de articulação, movimento, orientação e expressões não-manuais. A combinação desses parâmetros cria uma infinidade de possibilidades, assim como os fonemas se combinam para formar palavras nas línguas orais. A Libras também apresenta processos morfológicos, como a flexão de verbos para tempo e pessoa, e uma sintaxe própria, que organiza os sinais no espaço para construir frases e expressar relações gramaticais. No nível semântico, os sinais adquirem significado dentro do contexto e da cultura surda, e no nível pragmático, a Libras é utilizada em diferentes situações comunicativas, com suas nuances e variações.
Portanto, a Libras não é uma mera “tradução” do português em gestos, mas sim uma língua completa e autônoma, com sua própria gramática, vocabulário e estrutura. Reconhecer a Libras como uma língua natural é essencial para garantir o direito à comunicação e à inclusão da comunidade surda, permitindo que expressem seus pensamentos, ideias e emoções com a mesma riqueza e complexidade que qualquer outra língua proporciona.
#Libras#Língua#NaturalFeedback sobre a resposta:
Obrigado por compartilhar sua opinião! Seu feedback é muito importante para nos ajudar a melhorar as respostas no futuro.