Qual a classificação do advérbio mais?

A sutil complexidade do advérbio “mais”: além da intensidade

O advérbio “mais” é comumente classificado como advérbio de intensidade. Essa classificação, embora correta em muitos contextos, não captura a totalidade de sua função na língua portuguesa. Afirmar simplesmente que “mais” indica apenas o grau ou intensidade de algo é uma simplificação que obscurece sua riqueza semântica e sua capacidade de desempenhar papéis gramaticais distintos, dependendo do contexto.

Sim, em frases como “Ele comeu mais que eu” ou “Estou mais feliz agora”, “mais” claramente intensifica o verbo (“comer”) e o adjetivo (“feliz”), respectivamente. Nestes casos, ele atua inequivocamente como advérbio de intensidade, comparável a outros advérbios como “muito”, “bastante” e “demais”. Ele indica uma quantidade superior, um acréscimo em relação a um ponto de referência implícito ou explícito.

No entanto, a análise precisa ir além desta simples categorização. A versatilidade de “mais” permite sua utilização em construções que extrapolam a mera intensificação. Observe os exemplos a seguir:

• “Mais tarde, iremos ao cinema.” Aqui, “mais” não intensifica nada, mas indica uma circunstância de tempo, funcionando como um advérbio de tempo, similar a “depois” ou “amanhã”.

• “Ele é mais alto que o irmão.” Embora envolva comparação, “mais” aqui não intensifica a altura em si, mas estabelece uma relação de superioridade entre duas alturas. A intensificação é indireta, resultante da comparação.

• “Quero mais informações.” Neste caso, “mais” modifica o substantivo “informações”, indicando uma quantidade adicional, mas não intensifica uma qualidade inerente às informações. Poderia ser substituído por “outras” sem alteração significativa do sentido.

Portanto, classificar “mais” exclusivamente como advérbio de intensidade é reducionista. Sua função gramatical é mais abrangente, incluindo a expressão de comparação e a indicação de acréscimo ou adição. É um advérbio que se adapta ao contexto, desempenhando diferentes papéis semânticos e sintáticos, revelando a flexibilidade e riqueza da língua portuguesa. A classificação precisa, portanto, levar em consideração a função específica que “mais” desempenha em cada frase, considerando-o um advérbio de intensidade predominantemente, mas também apto a desempenhar papéis em outras categorias adverbiais. Essa contextualização é fundamental para uma compreensão completa de sua utilização.