Qual é a modalidade linguística pela qual as Libras são produzidas?

A Modalidade Linguística da Libras: Uma Visão Multimodal

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) não se encaixa na definição tradicional de língua, que prioriza a modalidade oral-auditiva. A sua singularidade reside na modalidade visual-espacial, que a diferencia significativamente das línguas orais. Afirmar que a Libras é apenas uma “língua de sinais” simplifica excessivamente sua complexidade. Ela não se limita a sinais isolados, mas sim a um sistema multimodal sofisticado que integra diversos componentes para a construção de significado.

A modalidade visual-espacial da Libras implica em uma produção linguística que se baseia na visão e na percepção espacial. Os sinais, unidades básicas da Libras, são configurados através do movimento das mãos (configuração de mão, ponto de articulação, orientação das mãos, movimento), mas não são seus únicos constituintes. A produção de significado também depende crucialmente de elementos não manuais, que adicionam nuances semânticas e gramaticais fundamentais.

Esses elementos não manuais englobam:

• Expressões faciais: A expressividade facial é inerente à Libras. Ela não apenas acompanha os sinais, mas frequentemente modifica ou especifica seu significado, expressando emoções, marcando a estrutura gramatical (por exemplo, a concordância verbal), e até mesmo construindo o contexto discursivo. Uma mesma configuração de mão pode adquirir sentidos distintos dependendo da expressão facial que a acompanha.

• Expressões corporais: A postura corporal, o movimento do tronco e a orientação do corpo no espaço contribuem ativamente para a construção do sentido. A inclinação do corpo, o posicionamento da cabeça e os movimentos do tronco podem ser parte integrante de um sinal ou indicar mudanças de tópico na conversa.

• Espaço de sinalização: A Libras utiliza o espaço de forma significativa, criando um sistema de referência espacial para a construção de frases complexas, incluindo a representação de objetos e a organização temporal dos eventos. O uso do espaço de sinalização permite a Libras construir estruturas gramaticais inexistentes nas línguas orais, como a incorporação de elementos no espaço para representar relações entre atores, ações e objetos.

Portanto, a modalidade linguística da Libras é multimodal e visual-espacial, incorporando a interação simultânea de vários canais de comunicação para a produção de significado. Ignorar a importância desses componentes não manuais é desconsiderar a riqueza e a complexidade dessa língua, que se mostra tão expressiva e estruturada quanto qualquer língua oral. A compreensão completa da Libras exige a consideração integral de sua natureza multimodal, compreendendo a sinergia entre os sinais manuais e os elementos não manuais na construção da mensagem.