Qual o tempo verbal da metodologia?

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Metodologias, por descreverem processos e procedimentos gerais, geralmente utilizam o presente do indicativo. Isso transmite a ideia de uma ação habitual ou atemporal. Eventualmente, para descrever etapas já realizadas em uma pesquisa específica, pode-se usar o pretérito perfeito do indicativo. Futuro raramente é empregado, exceto em propostas de pesquisa, onde se descrevem ações a serem executadas.
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A dança entre o tempo e a metodologia: um olhar sobre a construção do saber

A metodologia científica, espinha dorsal de qualquer pesquisa que se preze, é um guia, um mapa que delineia o caminho a ser percorrido na busca pelo conhecimento. Ela estrutura a investigação, define os instrumentos de coleta e análise de dados, garantindo a validade e a confiabilidade dos resultados. Mas, além dos procedimentos técnicos, existe um elemento sutil, porém crucial, que permeia a escrita metodológica: o tempo verbal. A escolha da temporalidade verbal não é meramente uma questão gramatical, mas sim uma decisão que reflete a própria natureza da metodologia e sua relação com o tempo.

Como um roteiro que orienta a execução de uma peça teatral, a metodologia descreve ações e procedimentos gerais, aplicáveis a diferentes contextos e momentos. Por isso, o tempo verbal predominante é o presente do indicativo. Ao afirmarmos coletam-se os dados através de entrevistas semi-estruturadas, não nos referimos a um evento específico, mas a uma prática recorrente, um procedimento padrão dentro daquela metodologia. O presente do indicativo confere à metodologia um caráter atemporal, universal, transmitindo a ideia de que aqueles passos podem ser replicados por qualquer pesquisador, em qualquer tempo. É como uma receita de bolo: os ingredientes e o modo de preparo permanecem os mesmos, independentemente de quem ou quando a receita for utilizada.

Entretanto, a rigidez do presente do indicativo não exclui a possibilidade de utilizar outros tempos verbais, desde que empregados com precisão e coerência. Quando descrevemos uma pesquisa específica, já concluída, o pretérito perfeito do indicativo encontra seu espaço. Nesse caso, o foco se desloca da descrição geral do método para a narrativa da sua aplicação em um contexto particular. Ao relatarmos os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas, situamos a ação no passado, indicando que aquele procedimento já foi realizado em um determinado momento da pesquisa. Essa mudança de tempo verbal contribui para a clareza e a precisão da narrativa, permitindo ao leitor distinguir entre a descrição geral da metodologia e a sua aplicação específica.

O futuro do indicativo, por sua vez, é um visitante raro nos textos metodológicos. Sua presença se justifica principalmente em propostas de pesquisa, onde se delineiam as ações a serem executadas. Ao declararmos os dados serão coletados através de entrevistas semi-estruturadas, projetamos a ação para o futuro, indicando o que pretendemos fazer. Nesse contexto, o futuro do indicativo expressa a intenção, o planejamento, a previsão das etapas que comporão a pesquisa. É o rascunho de um caminho a ser percorrido, uma promessa de ações futuras.

Portanto, a escolha do tempo verbal na metodologia não é uma questão trivial. Ela reflete a natureza da própria metodologia, ora como um guia atemporal, ora como o relato de uma jornada já percorrida, ora como a projeção de um caminho a ser trilhado. Dominar essa dança entre o tempo e a metodologia é essencial para a construção de um texto claro, preciso e coerente, capaz de guiar o leitor pelos meandros da pesquisa e conduzi-lo à compreensão do conhecimento construído. Afinal, a metodologia, em sua essência, é a arte de construir pontes entre o presente, o passado e o futuro do saber.