Quem ensinou os brasileiros a falar?

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Embora não se possa creditar um único professor, missionários jesuítas portugueses tiveram um papel crucial na formação da língua brasileira. Para facilitar a comunicação e estabelecer relações com os povos nativos, eles se dedicaram a aprender e documentar as diversas línguas indígenas, influenciando, consequentemente, o desenvolvimento do português falado no Brasil.

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A Formação da Língua Brasileira: Uma Jornada Plural e Sem Donos Únicos

A pergunta “Quem ensinou os brasileiros a falar?” pode soar simples, mas a resposta revela uma história complexa e multifacetada, bem distante de uma única figura heroica ou de um método de ensino formal. A língua portuguesa que falamos no Brasil hoje é o resultado de um caldeirão cultural intenso, forjado no encontro (muitas vezes conflituoso) entre colonizadores portugueses, povos originários e africanos escravizados.

É importante frisar: não houve um “professor” único do português brasileiro. A língua não é um presente imaculado entregue de geração em geração, mas sim um organismo vivo em constante transformação, moldado pelas necessidades e vivências de seus falantes.

O Legado Português e a Sombra da Colonização:

Claro, a base da nossa língua é o português, trazido pelos colonizadores a partir do século XVI. No entanto, essa importação não significou uma substituição imediata e total das línguas indígenas. Pelo contrário, o contato inicial gerou uma miscelânea linguística, com o português incorporando palavras e expressões nativas para descrever a nova realidade que se apresentava.

Nesse contexto, a menção aos missionários jesuítas como figuras importantes na formação da língua brasileira é pertinente, mas precisa ser contextualizada. Sua motivação primária não era, necessariamente, “ensinar” o português, mas sim catequizar os povos indígenas. Para isso, eles se dedicaram a aprender as diversas línguas nativas (como o tupi antigo) e, por meio desse estudo, criaram uma língua geral, uma espécie de “esperanto indígena” que facilitava a comunicação entre diferentes tribos e com os próprios colonizadores.

Essa língua geral teve um papel fundamental na disseminação de termos indígenas no vocabulário que viria a ser o português falado no Brasil. Palavras como “mandioca”, “abacaxi”, “capivara” e tantas outras são heranças diretas desse período.

Além dos Jesuítas: A Influência Africana e a Dinâmica Social:

No entanto, limitar a influência na formação da língua brasileira aos portugueses e aos jesuítas seria negligenciar uma parte crucial da história: a contribuição dos povos africanos escravizados. Trazidos à força para o Brasil, eles trouxeram consigo suas próprias línguas, culturas e tradições.

Apesar da violência e da repressão, as línguas africanas deixaram marcas profundas no português brasileiro, tanto no vocabulário quanto na fonética e na sintaxe. Palavras como “moleque”, “cacunda”, “quitanda” e expressões como “dengo” são apenas alguns exemplos dessa influência.

Mais importante ainda, a dinâmica social da escravidão moldou a maneira como o português era falado e apropriado no Brasil. Os escravizados, em sua luta por sobrevivência e resistência, reinterpretaram a língua dos colonizadores, criando novas formas de expressão e subvertendo a ordem imposta.

Um Legado em Constante Evolução:

Portanto, a língua portuguesa falada no Brasil é uma construção coletiva, resultado da interação complexa entre diferentes grupos sociais ao longo da história. Não foi ensinada por um único mestre, mas aprendida e reinventada por milhões de brasileiros.

O português brasileiro continua a evoluir, incorporando novas influências e se adaptando às mudanças da sociedade. É uma língua viva, vibrante e plural, que reflete a riqueza e a diversidade da nossa cultura. A busca por um único “professor” é, portanto, um exercício fútil. A verdadeira história da formação da língua brasileira reside na soma de incontáveis vozes, memórias e experiências que ecoam em cada palavra que pronunciamos.