Porque no Brasil não se fala espanhol?

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A falta de domínio do espanhol no Brasil se deve a políticas públicas, priorização do inglês, e a pouca ênfase em laços com países sul-americanos hispano-falantes. Há também uma questão de perspectiva cultural envolvida.

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Por que o espanhol não é amplamente falado no Brasil? Uma história de fronteiras, políticas e percepções.

A pergunta “Por que no Brasil não se fala espanhol?” ecoa com frequência, principalmente considerando nossa localização geográfica, cercados por países hispano-falantes. A resposta, porém, não é simplista e vai além da mera observação do português como língua oficial. Envolve um entrelaçado de fatores históricos, políticos, culturais e até mesmo geográficos que moldaram a relação do Brasil com o espanhol ao longo dos séculos.

A colonização portuguesa, evidentemente, é o ponto de partida. O Tratado de Tordesilhas, embora frequentemente rompido, estabeleceu uma linha divisória que separou o território brasileiro da influência espanhola. Essa separação física, consolidada com a formação dos estados-nação, gerou diferentes percursos linguísticos e culturais. Enquanto os vizinhos desenvolviam suas variantes do espanhol, o Brasil cultivava sua própria versão do português, enriquecida com influências indígenas e africanas.

Entretanto, a explicação transcende a herança colonial. As políticas linguísticas adotadas pelo Brasil ao longo de sua história demonstram uma clara priorização do inglês como segunda língua. Desde o século XIX, com a crescente influência dos Estados Unidos na economia global, o inglês ganhou espaço no ensino e no mercado de trabalho, consolidando-se como a língua estrangeira hegemônica. Essa priorização, reforçada pela globalização e pela predominância do inglês na ciência e tecnologia, relegou o espanhol a um segundo plano.

Outro fator crucial é a histórica ênfase, nas relações internacionais brasileiras, em laços com países de língua inglesa e potências europeias, muitas vezes em detrimento de uma aproximação mais intensa com os vizinhos sul-americanos. Essa postura, refletida em políticas comerciais e diplomáticas, contribuiu para a percepção do espanhol como uma língua menos relevante para o desenvolvimento do país.

Para além das políticas públicas, há também uma dimensão cultural a ser considerada. A construção de uma identidade nacional brasileira, frequentemente baseada na diferenciação em relação aos países hispânicos, influenciou a percepção do espanhol. Embora exista uma proximidade cultural inegável, persiste, em alguns setores da sociedade, uma visão que associa o espanhol a um status social inferior ou a uma cultura menos sofisticada, o que contribui para a desvalorização do idioma.

Apesar desse cenário, é importante destacar que a importância do espanhol vem sendo cada vez mais reconhecida. A crescente integração regional, impulsionada por blocos econômicos como o Mercosul, e a intensificação das relações comerciais com países hispano-falantes têm estimulado o interesse pelo idioma. Iniciativas governamentais, como a oferta de espanhol nas escolas públicas, também contribuem para uma mudança gradual de perspectiva.

Em suma, a ausência generalizada do espanhol no Brasil é resultado de uma complexa combinação de fatores históricos, políticos e culturais. A predominância do português, a priorização do inglês, a ênfase em outras parcerias internacionais e certas percepções culturais contribuíram para relegar o espanhol a uma posição secundária. No entanto, a crescente importância da América Latina no cenário global e a intensificação das relações regionais sugerem que o futuro reserva um papel mais proeminente para o espanhol no Brasil.