Quais são os preconceitos linguísticos?

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O preconceito linguístico manifesta-se quando há desvios da norma culta, na escrita, fala ou concordância. Exemplos incluem menas, as casa, firmadeira, a gente vamos, fez mal para eu, demonstrando variações linguísticas que divergem da norma padrão.

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Além do “Menas” e “A gente vamos”: Desvendando os Preconceitos Linguísticos

A língua, ferramenta fundamental da comunicação humana, é também palco de profundas desigualdades sociais. Frequentemente, a forma como falamos ou escrevemos é julgada, levando a um preconceito sutil, mas poderoso: o preconceito linguístico. Ele se manifesta não apenas em erros de gramática, como o popular “menas” ou “as casa”, mas em um julgamento de valor que associa a variação linguística à falta de inteligência, educação ou caráter. Vamos além dos exemplos clássicos e explorar a complexidade desse fenômeno.

O preconceito linguístico não se resume a apontar erros gramaticais. Ele se alimenta da ideia de que existe uma única forma “correta” de falar e escrever, a norma culta, e que todas as demais são inferiores, incorretas ou, pior, indicativas de inferioridade social. Essa norma, muitas vezes associada à elite econômica e cultural, serve como parâmetro para julgar as demais variedades linguísticas, que são relegadas a um segundo plano, estigmatizadas e até mesmo ridicularizadas.

Observemos que o “menas”, “as casa” ou “a gente vamos” são apenas a ponta do iceberg. O preconceito se estende a:

  • Regionalismos: A forma como se fala em diferentes regiões do Brasil – o sotaque, o vocabulário peculiar, a pronúncia – frequentemente sofre discriminação. O nordestino que fala “tu” e emprega expressões típicas de sua região pode ser visto como menos inteligente ou culto por quem utiliza a norma padrão do Sudeste.

  • Gírias e Jargões: O uso de gírias, jargões profissionais ou de grupos específicos costuma ser alvo de preconceito, especialmente quando usado em contextos formais. A ideia é que tal uso demonstra falta de seriedade ou profissionalismo.

  • Variedades socioculturais: A linguagem utilizada por pessoas de classes sociais mais baixas, muitas vezes marcada por expressões e construções consideradas não-padrão, é frequentemente estigmatizada, perpetuando um ciclo de exclusão social.

  • Línguas indígenas e outras línguas: O preconceito linguístico também se manifesta na discriminação contra línguas diferentes do português, seja em relação a línguas indígenas ou línguas de imigrantes. A invisibilização dessas línguas contribui para sua perda e para a desvalorização das culturas a elas associadas.

É crucial entender que a variação linguística é natural e inerente à própria dinâmica da língua. Não existe uma língua “pura” ou “superior”; a língua evolui e se adapta às necessidades e contextos sociais. O preconceito linguístico, portanto, não é um problema linguístico, mas um problema social, que revela desigualdades de poder e perpetua a discriminação. Combater esse preconceito exige não só o reconhecimento da riqueza e diversidade das variedades linguísticas, mas também uma conscientização crítica sobre o papel da língua na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Em vez de julgar, devemos valorizar a riqueza e a expressividade presente em todas as formas de linguagem, reconhecendo sua beleza e função comunicativa, independentemente de sua adequação à norma culta.