Quantos dias por morte de mãe?

Cinco dias. Cinco dias é o que a lei te “dá” quando a tua mãe morre. Cinco dias para… para quê, exatamente? Para arrumar a vida dela? Para arrumar a tua vida, que agora está um caos, um buraco negro que te suga toda a energia? Parece uma piada de mau gosto, não parece?

Cinco dias. Lembro-me quando o meu avô morreu. Foi… devastador. E eram cinco dias também. Cinco dias para gerir funerais, burocracias, emoções… Uma avalanche. Como se a dor pudesse ser encaixotada num prazo, tipo “Ok, tristeza, o teu tempo acabou, agora volta ao trabalho!”. É absurdo, né?

A lei diz “mãe, pai, sogros”. Parentes de primeiro grau, blá blá blá. Formalidades frias que não captam a intensidade da coisa. A minha mãe… era a minha mãe. Não um “parente de primeiro grau em linha reta”. Era o meu porto seguro, a minha confidente, a minha melhor amiga. E agora… cinco dias.

Lembro-me de estar a assinar papéis, a tratar de coisas práticas, completamente anestesiada. A minha cabeça noutro planeta. E pensar “cinco dias… é tudo o que tenho?”. Nem sei quantos cafés bebi nesses dias, só para conseguir funcionar, para parecer minimamente normal. Normal? Como se existisse um “normal” depois daquilo.

Cinco dias. É o que a lei prevê. É o que te “garantem”. Uma esmola. Será que alguém que escreveu essa lei já perdeu a mãe? Duvido. Porque senão, saberiam que cinco dias é um insulto. Um insulto à dor, à memória, ao amor. Uma gota de água num oceano de sofrimento. E depois? Depois voltam os emails, as reuniões, a rotina. Como se nada tivesse acontecido. Como se o mundo não tivesse parado. Mas parou. Pelo menos, o meu mundo parou. E cinco dias não chegam para o pôr a andar de novo. Nem perto disso.