Quais são os dois tipos de sociedade para Durkheim?

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Para Durkheim, as sociedades se dividem em dois tipos: a de solidariedade mecânica e a de solidariedade orgânica, baseadas no grau de coesão e integração social.

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A Divisão Social em Durkheim: Solidariedade Mecânica e Orgânica

Émile Durkheim, figura seminal da sociologia, dedicou grande parte de sua obra à compreensão da coesão social, ou seja, aquilo que une os indivíduos em uma sociedade e garante sua permanência. Para ele, a chave para entender essa coesão reside na distinção entre dois tipos fundamentais de sociedade: a sociedade de solidariedade mecânica e a sociedade de solidariedade orgânica. Essa distinção não se refere a uma evolução linear, onde uma necessariamente sucede a outra, mas sim a tipos ideais que podem coexistir e se manifestar em graus variados dentro de uma mesma sociedade.

A solidariedade mecânica, predominante em sociedades tradicionais e menos complexas (como as sociedades pré-industriais), caracteriza-se por uma forte homogeneidade entre os indivíduos. A consciência coletiva – o conjunto de crenças e sentimentos comuns a todos os membros de uma mesma sociedade – é extremamente poderosa, impondo normas e valores quase sem contestação. A divisão do trabalho é mínima, com indivíduos desempenhando funções similares e compartilhando experiências e valores muito semelhantes. A coesão social surge naturalmente dessa semelhança, da intensa interdependência derivada da proximidade e da partilha de um mesmo modo de vida. A lei, nesse contexto, é predominantemente repressiva, voltada para punir violações da moral coletiva, muitas vezes com punições severas e coletivas. O indivíduo é, portanto, subsumido à coletividade, sua identidade sendo fortemente determinada pelos costumes e tradições da comunidade.

Já a solidariedade orgânica, característica de sociedades modernas e industrializadas, é marcada por uma crescente diferenciação entre indivíduos e grupos sociais. A divisão do trabalho é altamente especializada, com indivíduos desempenhando funções distintas e interdependentes. A consciência coletiva é menos intensa e homogênea, permitindo maior individualidade e autonomia. A coesão social, em vez de resultar da semelhança, decorre da interdependência funcional: cada indivíduo contribui para o todo social através de sua especialização, criando uma complexa rede de relações que garantem a funcionalidade do sistema. A lei, neste contexto, torna-se mais restitutiva, focada em reparar o dano causado, buscando reintegrar o indivíduo na sociedade através de mecanismos compensatórios e restaurativos, ao invés de punições cruéis e coletivas. A identidade individual se torna mais complexa e autônoma, menos determinada pela comunidade e mais moldada pelas relações e experiências próprias.

É importante ressaltar que Durkheim não via essa distinção como um processo linear e inflexível. Sociedades complexas podem apresentar resquícios de solidariedade mecânica em determinados grupos ou instituições, enquanto sociedades mais tradicionais podem exibir elementos de solidariedade orgânica em setores específicos. A chave reside no predomínio de um tipo de solidariedade sobre o outro na estrutura social geral. A análise durkheimiana, portanto, nos oferece uma ferramenta poderosa para compreender a evolução social e a complexa relação entre indivíduo e sociedade, em diferentes contextos históricos e sociais.