Como é se referir na terceira pessoa?
A terceira pessoa narrativa utiliza nomes próprios e pronomes como ela, dele, deles, etc., para se referir a personagens, grupos (médicos, pesquisadores etc.), mantendo distância do leitor, sem o uso de você ou eu. A perspectiva é externa aos personagens, observando as ações e diálogos.
A Distância Discreta da Terceira Pessoa: Narrativa e Observação
A terceira pessoa narrativa, ferramenta fundamental na construção de narrativas, oferece ao escritor uma posição privilegiada: a de observador externo. Diferentemente da primeira pessoa (“eu”) e da segunda pessoa (“você”), ela estabelece uma distância sutil, mas significativa, entre o narrador e os personagens, influenciando profundamente o tom e a percepção da história. Mas como, exatamente, essa distância se manifesta e como se traduz na prática da escrita?
A chave reside no uso de nomes próprios e pronomes de terceira pessoa – ele, ela, eles, elas – para se referir aos personagens e a grupos mais amplos, como “os cientistas”, “a equipe médica”, ou mesmo entidades abstratas como “o destino”. Essa escolha lexical distancia o narrador da experiência íntima dos personagens, evitando a imersão profunda e subjetiva característica da primeira pessoa. O leitor, portanto, acompanha os eventos através de uma lente que, embora presente, permanece impessoal.
A perspectiva externa, inerente à terceira pessoa, permite ao narrador acessar a mente de múltiplos personagens, descrevendo seus pensamentos e emoções sem a restrição de uma visão única e limitada. Imagine uma cena de crime: a narrativa em terceira pessoa pode descrever simultaneamente a angústia da vítima, o planejamento meticuloso do assassino e a investigação minuciosa do detetive, oferecendo uma visão panorâmica do evento que seria impossível com a primeira pessoa.
No entanto, a suposta “objetividade” da terceira pessoa é um equívoco. Mesmo sem usar “eu” ou “você”, o narrador exerce um controle significativo sobre a narrativa, selecionando quais informações apresentar, que detalhes enfatizar e como estruturar a história. A escolha da perspectiva de um personagem específico, mesmo em terceira pessoa, já impõe um viés narrativo. O autor pode optar por focalizar a perspectiva de um personagem específico em um determinado momento, revelando seus pensamentos e sentimentos, enquanto mantém a distância de outros. Isso cria um efeito de “perspectiva focalizada”, onde a narrativa acompanha de perto a experiência de um personagem, mas sem a subjetividade da primeira pessoa.
A terceira pessoa ainda se divide em variantes, como a onipresente, que tem acesso a todas as informações e perspectivas, e a limitada, que se concentra na experiência de um único personagem ou em um pequeno grupo de personagens. Essa escolha sutil, mas poderosa, afeta profundamente a experiência do leitor, moldando sua compreensão da história e de seus personagens.
Concluindo, a terceira pessoa narrativa, longe de ser um mero recurso técnico, é uma ferramenta narrativa complexa e versátil que permite ao escritor controlar a distância entre o leitor e a história, moldando a percepção da trama e dos personagens. Sua utilização precisa e consciente é fundamental para a construção de narrativas eficazes e envolventes.
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