Como ocorre o desenvolvimento humano segundo Piaget?

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Piaget descreve o desenvolvimento cognitivo como uma sucessão de equilibrações e desequilibrações, com influência mínima de fatores externos. A inteligência, para ele, é um processo de assimilação, onde a experiência é incorporada e transformada internamente, impulsionando o desenvolvimento espontâneo do indivíduo, com pouca interferência do meio.

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O Desenvolvimento Humano segundo Piaget: Um Equilíbrio em Constante Movimento

Jean Piaget, renomado psicólogo suíço, revolucionou a compreensão do desenvolvimento humano, propondo uma teoria centrada na construção ativa do conhecimento pela criança. Ao contrário de modelos que veem o desenvolvimento como um mero acúmulo de informações ou como um reflexo direto do ambiente, Piaget o descreve como um processo contínuo de adaptação ao meio, impulsionado por uma busca intrínseca por equilíbrio cognitivo. Esse equilíbrio, no entanto, não é estático; ele é dinâmico, marcado por ciclos de desequilíbrio e subsequente reequilíbrio, que impulsionam o desenvolvimento cognitivo em estágios distintos.

A base da teoria piagetiana reside nos conceitos de assimilação e acomodação. A assimilação é o processo pelo qual a criança incorpora novas informações à sua estrutura mental existente – os esquemas cognitivos. Imagine uma criança que já possui o esquema “cachorro”: ao encontrar um novo cachorro, ela o assimila ao seu esquema pré-existente, reconhecendo-o como um cachorro. Contudo, se encontra um gato, sua estrutura cognitiva entra em desequilíbrio. É aqui que entra a acomodação: a criança precisa modificar seus esquemas existentes, ou criar novos, para acomodar a nova informação. Ela precisa diferenciar um gato de um cachorro, ajustando seus esquemas para incorporar essa nova categoria.

Este processo de assimilação e acomodação, constantemente em interação, é a força motriz do desenvolvimento cognitivo. A criança busca ativamente um estado de equilíbrio, uma coerência interna entre suas estruturas cognitivas e o mundo exterior. No entanto, esse equilíbrio é sempre provisório. Novas experiências e desafios levam a desequilíbrios, que, por sua vez, motivam a criança a modificar seus esquemas, alcançando um novo estado de equilíbrio, porém em um nível cognitivo mais complexo. Esse ciclo de desequilíbrio-reequilíbrio é o motor da construção do conhecimento, conduzindo a criança através de estágios evolutivos específicos.

Piaget identifica quatro estágios principais no desenvolvimento cognitivo:

  • Sensório-motor (0-2 anos): Caracterizado pela exploração do mundo através dos sentidos e movimentos. A criança desenvolve a noção de objeto permanente, compreendendo que objetos continuam existindo mesmo fora de sua visão.
  • Pré-operacional (2-7 anos): Surge o pensamento simbólico, com o desenvolvimento da linguagem e da capacidade de representar o mundo através de imagens e ideias. O egocentrismo é uma característica marcante, dificultando a perspectiva de outro ponto de vista.
  • Operações concretas (7-11 anos): A criança desenvolve a capacidade de realizar operações mentais reversíveis e de lidar com conceitos concretos. O raciocínio lógico começa a se consolidar, embora ainda limitado a situações concretas e tangíveis.
  • Operações formais (11 anos em diante): A capacidade de pensar abstratamente e hipoteticamente se desenvolve. O adolescente é capaz de lidar com problemas complexos, construir hipóteses e deduzir conclusões.

É crucial destacar que, para Piaget, o desenvolvimento é um processo construtivo, e não simplesmente um processo de maturação biológica ou de aprendizado passivo. O meio exerce um papel importante, mas não determinante, oferecendo estímulos que impulsionam a construção ativa do conhecimento pela criança. A interação social, por exemplo, desempenha um papel fundamental na promoção do desenvolvimento cognitivo, fornecendo desafios e oportunidades para a assimilação e acomodação.

Em resumo, a teoria de Piaget apresenta uma visão dinâmica e construtivista do desenvolvimento humano, enfatizando a busca incessante por equilíbrio e a construção ativa do conhecimento através da interação entre a criança e seu ambiente. A compreensão desses processos é fundamental para a educação, que deve proporcionar desafios adequados ao nível de desenvolvimento de cada criança, estimulando a sua capacidade de construção intelectual e propiciando um ambiente rico em experiências que impulsionem o seu desenvolvimento cognitivo.