O que é um narrador participante?

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O narrador participante está presente na história como personagem, utilizando pronomes e verbos da primeira pessoa (eu, meu, encontrei) para contar os acontecimentos.

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O Narrador Participante: Uma Imersão na Perspectiva da Personagem

No vasto universo da narrativa, o narrador é a voz que nos guia através da história. Ele pode ser onisciente, observando tudo de cima, onipresente, permeando cada pensamento dos personagens, ou, como vamos explorar aqui, um participante ativo dos eventos que desenrola: o narrador participante.

O narrador participante é, essencialmente, um personagem dentro da trama. Ele não apenas conta a história, mas também a vive, sente, reage e é afetado por ela. A grande diferença reside na perspectiva em primeira pessoa. Ele usa pronomes como “eu”, “meu”, “mim” e verbos conjugados na primeira pessoa do singular ou plural (“nós”, “nosso”, “encontramos”), o que significa que a narrativa é filtrada através de seus olhos, sua experiência e sua interpretação.

Além da Descrição: Entendendo a Profundidade

A simples definição (“personagem que usa a primeira pessoa”) não captura a riqueza e as nuances que o narrador participante oferece. Vamos explorar alguns aspectos cruciais:

  • Subjetividade Intrínseca: A narrativa é inerentemente subjetiva. O que o narrador participante relata é o que ele percebe e entende. Essa percepção pode ser influenciada por suas emoções, preconceitos, objetivos e até mesmo pela sua memória falha. Isso significa que o leitor tem acesso a uma versão dos fatos que pode não ser completamente objetiva.

  • Intimidade e Empatia: A voz em primeira pessoa cria uma sensação de proximidade entre o leitor e o narrador. Compartilhamos seus pensamentos, suas dúvidas, seus medos e suas alegrias. Essa intimidade facilita a criação de laços emocionais e permite que o leitor se coloque no lugar do personagem, experimentando a história de forma mais visceral.

  • Credibilidade e Viés Narrativo: Ao mesmo tempo em que a proximidade aumenta a empatia, o leitor precisa estar ciente do viés narrativo. O narrador participante pode omitir informações, interpretar eventos de maneira tendenciosa ou até mesmo mentir para proteger a si mesmo ou a outros. Desconfiar da narrativa e buscar pistas nas entrelinhas da história é um exercício valioso.

  • Revelação Gradual: O leitor descobre a história simultaneamente com o narrador participante. Isso gera suspense, mistério e uma sensação de descoberta constante. A história se revela aos poucos, à medida que o narrador aprende e amadurece.

Exemplos na Literatura Brasileira (e além):

Embora a literatura mundial esteja repleta de exemplos, podemos citar alguns para ilustrar:

  • “Dom Casmurro”, de Machado de Assis: Bentinho, o narrador participante, reconta sua história e a de Capitu, deixando o leitor com a eterna dúvida sobre a traição. A ambiguidade e a subjetividade da narrativa são marcas registradas.

  • “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo: Embora a narrativa principal seja em terceira pessoa, há momentos em que a voz de um personagem se destaca, aproximando-se da experiência do narrador participante.

  • “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger (literatura estrangeira): Holden Caulfield, o protagonista e narrador, nos conduz por suas angústias e reflexões sobre a adolescência e a sociedade.

Em Resumo:

O narrador participante é uma ferramenta poderosa para construir narrativas envolventes e emocionalmente ressonantes. Ele convida o leitor a mergulhar na mente de um personagem, compartilhar suas experiências e questionar a própria realidade apresentada. Ao escolher essa perspectiva, o autor abre espaço para a subjetividade, a intimidade e a ambiguidade, enriquecendo a experiência da leitura e desafiando o leitor a se tornar um participante ativo na construção do significado da história.

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