Porque Libras não é uma linguagem?
A afirmação de que Libras não é uma linguagem é um equívoco grave, demonstrando desconhecimento sobre a natureza das línguas e, especificamente, sobre a estrutura e complexidade da Língua Brasileira de Sinais. Libras é, sim, uma língua completa, com gramática própria, léxico vasto e capaz de expressar ideias abstratas, emoções e nuances da comunicação humana com a mesma profundidade que as línguas orais. A confusão surge, muitas vezes, da associação equivocada entre linguagem e oralidade, limitando a compreensão do conceito de linguagem em sua amplitude.
Linguagem, em seu sentido mais amplo, refere-se a qualquer sistema de signos utilizado para comunicação. Seja por meio de sons, gestos, imagens ou outros símbolos, a linguagem permite a troca de informações, a expressão de pensamentos e a construção de significados. A oralidade é apenas uma das formas de manifestação da linguagem, enquanto Libras se manifesta visualmente, utilizando as mãos, expressões faciais e movimentos corporais para construir seus enunciados. Essa diferença na modalidade não a torna menos complexa ou menos eficiente como sistema de comunicação.
A gramática da Libras, por exemplo, é tão sofisticada quanto a de qualquer língua oral, porém estruturada de forma diferente. Enquanto as línguas orais se baseiam em fonemas e morfemas, a Libras utiliza parâmetros como a configuração de mão, o ponto de articulação, o movimento, a orientação e as expressões faciais e corporais. A combinação desses parâmetros forma os sinais, que são as unidades mínimas de significado da língua. A sintaxe da Libras também possui suas próprias regras para a organização dos sinais em frases e orações, permitindo a construção de enunciados complexos e a expressão de ideias abstratas.
O léxico da Libras é igualmente rico e em constante expansão, incorporando novos sinais para representar conceitos e realidades emergentes. Assim como as línguas orais, a Libras possui regionalismos e variações, demonstrando sua vitalidade e capacidade de adaptação às diferentes comunidades surdas. Além disso, a Libras permite a expressão de poesia, humor, sarcasmo e outras nuances da comunicação humana, comprovando sua capacidade de transmitir não apenas informações, mas também emoções e subjetividades.
A legitimidade da Libras como língua é reconhecida não apenas pela comunidade surda, mas também pela legislação brasileira. A Lei nº 10.436/2002 reconhece a Libras como meio de comunicação e expressão da comunidade surda brasileira e a Decreto nº 5.626/2005 regulamenta essa lei, dispondo sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia, além de garantir o direito à educação bilíngue para os surdos.
Negar o status de língua à Libras é, portanto, um ato de preconceito linguístico, que desconsidera a riqueza e a complexidade desse sistema de comunicação e perpetua a exclusão da comunidade surda. Reconhecer a Libras como língua é fundamental para garantir o acesso à educação, à informação e à plena participação social dos surdos, promovendo uma sociedade mais inclusiva e respeitosa à diversidade linguística. A Libras não é apenas uma forma de comunicação, é uma língua completa, rica e essencial para a identidade e a cultura da comunidade surda brasileira. É um patrimônio linguístico que deve ser valorizado e protegido.
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