Qual a diferença entre Libras e línguas orais?

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Libras, ao contrário do que se acreditava, não se resume a gestos ou mímicas, mas sim a uma língua completa com sua própria gramática e estrutura. A principal diferença entre Libras e línguas orais reside no canal de comunicação: a oral utiliza o canal auditivo-oral, enquanto Libras utiliza o canal viso-motor, ou seja, a visão e o movimento.

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Libras e Línguas Orais: Uma Comparação Profunda além da Superficialidade

A crença popular frequentemente reduz a Língua Brasileira de Sinais (Libras) a uma mera representação visual de palavras faladas, uma espécie de “gesticulação”. No entanto, essa percepção superficial obscurece a complexidade e riqueza da Libras como uma língua de pleno direito, com estrutura gramatical própria e independente das línguas orais. A diferença entre elas vai muito além do simples canal de comunicação.

A mais óbvia distinção reside, de fato, no canal de comunicação. As línguas orais, como o português, o inglês ou o espanhol, utilizam o canal auditivo-oral. A informação é transmitida através de sons produzidos pela boca e percebidos pelos ouvidos. Já a Libras, utiliza o canal viso-motor. A informação é codificada por meio de movimentos das mãos, expressões faciais, movimentos corporais e postura, sendo percebida pela visão. Essa diferença fundamental impacta diretamente na estrutura da língua.

Além do canal, a estrutura gramatical apresenta divergências significativas. A Libras, por exemplo, não segue a ordem sujeito-verbo-objeto (SVO) característica de muitas línguas orais. Sua sintaxe é espacial, utilizando o espaço de sinalização para indicar relações gramaticais entre as palavras. Um mesmo sinal pode ter significados diferentes dependendo da sua localização no espaço de sinalização, da expressão facial que o acompanha e da orientação das mãos. Imagine apontar para um ponto no espaço, sinalizar “gato” nesse ponto e depois sinalizar “dormir” – a localização espacial indica claramente que o gato está dormindo naquele lugar. Em uma língua oral, essa informação espacial precisaria ser explicitada por meio de palavras.

Outro ponto crucial é a modalidade. As línguas orais são modalmente auditivas-orais, enquanto a Libras é modalmente viso-espacial. Essa diferença de modalidade influencia a forma como a língua é processada pelo cérebro. Pesquisas em neurociência demonstram que diferentes áreas cerebrais são ativadas durante a processamento de línguas orais e Libras, sendo que a percepção e produção da Libras envolvem áreas visuais e motoras de forma mais integrada.

Por fim, é importante destacar que a Libras não é uma tradução visual do português. É uma língua com sua própria história, evolução e cultura, refletindo a identidade surda e suas particularidades. Compará-las como simples variações de uma mesma coisa ignora a riqueza e complexidade de cada uma, desrespeitando a Libras como uma língua completa e autônoma. Entender essas diferenças é fundamental para promover a inclusão e o respeito à diversidade linguística. Aprender Libras é mais do que apenas aprender sinais; é mergulhar em uma cultura rica e singular, comunicando-se de maneira plena e autêntica.