Qual é a subclasse do verbo ser?

A Subclasse do Verbo “Ser” em Construções Passivas: Auxiliar, mas com Personalidade

O verbo “ser” é um camaleão gramatical, adaptando-se a diferentes funções sintáticas. Conhecido por seu papel como verbo de ligação, conectando o sujeito a um predicativo, e também por sua atuação como verbo intransitivo, expressando existência ou estado, o “ser” assume uma faceta peculiar nas construções passivas: a de verbo auxiliar. Não se trata de um simples coadjuvante, mas de um elemento essencial que, ao se combinar com o particípio passado de outro verbo, constrói a voz passiva, alterando o foco da ação.

É importante frisar a distinção: enquanto verbo de ligação, o “ser” atribui uma característica ao sujeito (“A casa é bonita”). Como intransitivo, expressa estado ou existência (“Eu sou feliz”, “Deus é“). Já na voz passiva, ele se funde ao verbo principal, deixando de carregar o peso semântico da ação e passando a desempenhar um papel estrutural, indicando a passividade do sujeito.

Imagine a frase: “O bolo foi comido pela criança”. Aqui, “ser” (conjugado como “foi”) se une ao particípio “comido” para formar a voz passiva. Note que “ser” não descreve o bolo nem expressa sua existência, mas sim auxilia o verbo “comer” a expressar a ação sofrida pelo sujeito (“o bolo”). A criança, agente da ação, passa a um segundo plano, introduzida pela preposição “por” ou “pelo”.

Essa função auxiliar do “ser” na voz passiva é fundamental para a construção do sentido. Ele não apenas flexiona-se em tempo, modo e pessoa, concordando com o sujeito paciente, mas também carrega consigo a noção de que o sujeito recebe a ação, e não a pratica. É a presença do “ser” conjugado que diferencia a frase “O bolo foi comido” (voz passiva) de “O bolo comido” (uma possível estrutura de substantivo + adjetivo).

Portanto, embora o “ser” possa ser classificado como verbo de ligação ou intransitivo em outros contextos, nas construções passivas ele assume a subclasse de verbo auxiliar, um papel crucial para a formação e compreensão da voz passiva, conferindo-lhe sua característica fundamental: a passividade do sujeito em relação à ação verbal. É nessa função específica que o “ser” demonstra sua versatilidade e importância para a riqueza expressiva da língua portuguesa.

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