Como citar preconceito linguístico?

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Marcos Bagno, em Preconceito Linguístico, exemplifica como a ideia de falar bem português é preconceituosa, citando afirmações como brasileiro não sabe português e a suposta superioridade da língua portuguesa falada em Portugal. O autor também critica a associação de erros gramaticais à falta de instrução.

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O Preconceito Linguístico: Uma Análise Crítica da Ideologia da “Boa” Gramática

Marcos Bagno, em seu seminal “Preconceito Linguístico”, desmistifica a ideia de que existe um “bom” e um “mau” português, expondo a natureza preconceituosa por trás dessa concepção. O autor não apenas identifica a discriminação linguística, mas também desvenda as raízes sociais e históricas que a sustentam. A obra, um marco no estudo da língua portuguesa no Brasil, destaca a importância de analisar criticamente as noções de “certo” e “errado” em relação ao uso da língua.

Bagno demonstra como a ideia de uma língua portuguesa “padrão”, geralmente associada à fala portuguesa, se manifesta em preconceitos que afetam a autoestima e a identidade de falantes brasileiros. Afirmações como “brasileiro não sabe português” ou a suposta superioridade da língua portuguesa falada em Portugal são exemplos claros dessa visão preconceituosa. Essa visão, muitas vezes perpetuada por instituições e indivíduos que detêm poder social, reforça a ideia de que certos usos linguísticos são inerentemente “inferiores”.

Um ponto crucial no argumento de Bagno é a crítica à associação de erros gramaticais à falta de instrução. O autor questiona a relação direta entre a “competência linguística” e o nível socioeconômico. Muitas vezes, a “falta de conhecimento” é usada como justificativa para o preconceito contra dialetos e variedades linguísticas. Entretanto, Bagno demonstra que a variação linguística é um fenômeno natural, resultante da interação social e histórica. Cada variedade da língua portuguesa, incluindo as formas ditas “erradas” pelo padrão, carrega consigo história, cultura e identidade. O que é considerado um erro em uma determinada situação pode ser perfeitamente aceitável em outra, dependendo do contexto.

A análise de Bagno vai além da mera crítica à linguagem. Ela explora o preconceito linguístico como parte de um sistema maior de desigualdade social. A discriminação linguística está intrinsecamente ligada à discriminação racial, de classe e gênero, reforçando as hierarquias sociais existentes. Ao questionar a validade de um único padrão linguístico, Bagno estimula uma reflexão sobre as estruturas de poder que moldam nossa compreensão da língua.

Assim, citar Bagno em relação ao preconceito linguístico não é apenas reconhecer sua autoridade como linguista, mas sim aderir a uma postura crítica e emancipatória em relação à língua portuguesa e a sua utilização. É fundamental compreender que a língua não é estática, mas sim viva, em constante transformação e influenciada pelas realidades sociais que a moldam. Ao reconhecer a diversidade linguística e a riqueza da variação, rompemos com a lógica preconceituosa que limita a comunicação e a valorização dos diferentes modos de falar.