Qual a diferença de escrita para escritura?
A escritura, na visão de Barthes, transcende a mera transmissão de informações. É uma noção que distingue a escrita cujo valor reside intrinsecamente em sua forma, estilo e textura, daquela que serve apenas como veículo para um conteúdo específico. Para Barthes, a escritura possui uma autonomia estética, mesmo carregando consigo significados.
Escrita e Escritura: Da Transmissão de Dados à Arte da Palavra
As palavras “escrita” e “escritura”, embora parecidas e frequentemente usadas de forma intercambiável, carregam nuances semânticas distintas, especialmente quando analisadas sob a lente da teoria literária. A diferença, sutil mas significativa, reside na intenção e no foco do ato de escrever.
A escrita, em seu sentido mais básico, refere-se ao ato físico e mecânico de registrar signos gráficos sobre um suporte – seja papel, tela de computador ou parede de cavernas. É o processo de transcrever ideias, informações ou sentimentos em um código compreensível, visando a transmissão de uma mensagem específica. Podemos falar, por exemplo, de “escrita legível”, “escrita corrida”, “escrita cursiva” – todas se referindo à técnica e forma da grafia. O foco aqui está no como se escreve, na técnica empregada e na transmissão eficaz do conteúdo. É a escrita funcional, presente em bilhetes, relatórios, e-mails, etc.
A escritura, por sua vez, engloba um conceito mais amplo e artístico. Ela vai além da simples transmissão de informações, adquirindo uma dimensão estética e autônoma. Nesta perspectiva, a escrita se torna um objeto de estudo em si mesma, independente do significado literal do texto. A preocupação não está apenas na mensagem, mas também na sua forma, no seu estilo, na sua textura, no ritmo e no jogo da linguagem. O como se escreve torna-se tão importante quanto o que se escreve.
A concepção de escritura como arte autônoma ganha força com teóricos como Roland Barthes, como mencionado no trecho inicial. Para ele, a escritura transcende a mera função comunicativa, possuindo uma existência independente, uma beleza intrínseca que cativa o leitor além do conteúdo em si. A escolha das palavras, a estrutura das frases, a cadência das sentenças, tudo contribui para a experiência estética da leitura. É a escrita literária, poética, que busca o impacto sensorial e a provocação intelectual para além do significado literal.
Podemos pensar na diferença assim: a escrita é o instrumento; a escritura, a obra de arte criada com esse instrumento. Um relatório empresarial é um exemplo de escrita; um poema de Fernando Pessoa, um exemplo de escritura. Um manual de instruções exemplifica a escrita; um romance de Clarice Lispector, a escritura.
Em resumo, a escrita é o processo técnico de registrar informações; a escritura é a arte de construir um texto que transcende a mera informação, explorando as possibilidades estéticas da linguagem e criando uma experiência única para o leitor. A distinção entre os dois termos, embora sutil, revela a complexidade da linguagem escrita e a riqueza de suas potencialidades.
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