Quantos radicais tem o verbo ir?

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O verbo ir possui dois radicais:

  • i-, do verbo latino ire (ia, irei)
  • f-, do verbo esse (fui, fosse)
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A Dupla Personalidade do Verbo “Ir”: Uma Aventura Etimológica

O verbo “ir” em português, aparentemente simples e de uso corriqueiro, guarda em sua estrutura uma peculiaridade fascinante: a presença de dois radicais distintos. Essa dualidade não é uma anomalia, mas sim um reflexo rico da história da língua, revelando a influência de diferentes origens e processos de evolução. Compreender essa estrutura nos ajuda a apreciar a complexidade e a beleza da etimologia da nossa língua.

Ao contrário de muitos verbos que mantêm uma raiz consistente ao longo de suas conjugações, “ir” apresenta formas verbais derivadas de duas raízes distintas, latinas, que coexistem e se complementam, criando um sistema conjugacional único e complexo.

A primeira raiz, i-, é originária do verbo latino ire (ir, andar). É a base para a maioria das formas do verbo, como “vou”, “vai”, “iremos”, “irão”. Esta raiz nos permite traçar uma linha direta da palavra latina para as formas presentes e futuras do verbo “ir” em português. Sua presença é dominante, dando a estrutura básica à conjugação.

No entanto, a história não termina aqui. Uma segunda raiz, f-, emerge ao analisarmos as formas do pretérito perfeito e do pretérito imperfeito do subjuntivo: “fui”, “foste”, “foi”, “fôssemos”, “fôsseis”, “fossem”. Esta raiz remonta ao verbo latino esse (ser, estar), indicando uma influência mais complexa na formação do verbo, um empréstimo que agregou uma nuance temporal específica à sua conjugação.

A coexistência dessas duas raízes não é uma simples adição, mas sim uma fusão histórica. Ao longo dos séculos, a língua absorveu e adaptou essas formas, moldando-as segundo suas próprias regras fonéticas e gramaticais. O resultado é um verbo que, apesar de sua aparente simplicidade de uso, carrega consigo a marca indelével de sua evolução, demonstrando a riqueza e a dinâmica da formação da língua portuguesa.

Portanto, a afirmação de que o verbo “ir” possui dois radicais – i- de ire e f- de esse – não é apenas uma constatação gramatical, mas uma janela para a compreensão das forças históricas que moldaram a língua portuguesa, revelando a complexa tapeçaria de influências que a compõem. A aparente simplicidade do verbo “ir” esconde, assim, uma fascinante história etimológica, digna de ser explorada e apreciada.