Quem dita as regras da língua portuguesa?

17 visualizações
Não há uma entidade única que dita as regras. A norma culta se baseia no uso da língua por falantes considerados cultos, cristalizado em gramáticas e dicionários. A Academia Brasileira de Letras (ABL) e o Instituto de Linguística Teórica e Experimental (ILTEC) têm papel importante na normatização e registro, mas a língua é dinâmica e evolui com o uso. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), atualizado pela ABL, serve como referência oficial para a ortografia.
Feedback 0 curtidas

A língua portuguesa, como qualquer idioma vivo, é um organismo em constante transformação, um rio caudaloso que se molda à paisagem por onde corre. Dizer que existe uma entidade única, um órgão regulador supremo que dita suas regras, é uma simplificação que não condiz com a complexidade do fenômeno linguístico. Afinal, quem de fato define o curso desse rio? Quem decide quais palavras serão incorporadas à correnteza e quais ficarão retidas nas margens da história?

A resposta, embora complexa, pode ser resumida em uma palavra: nós. Somos nós, os falantes, os usuários da língua, que, coletivamente e ao longo do tempo, moldamos seus contornos. A norma culta, frequentemente vista como um conjunto de regras imutáveis, na verdade, é um reflexo do uso da língua por falantes considerados cultos, um padrão que se cristaliza e se registra em gramáticas e dicionários. Esses registros, por sua vez, servem como guias, como pontos de referência para a comunicação, mas não como ditames absolutos e inquestionáveis.

Instituições como a Academia Brasileira de Letras (ABL) e o Instituto de Linguística Teórica e Experimental (ILTEC) desempenham um papel fundamental nesse processo de normatização e registro da língua. A ABL, por exemplo, é responsável pela elaboração e atualização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), que serve como referência oficial para a ortografia no Brasil e em outros países lusófonos. O ILTEC, por sua vez, dedica-se à pesquisa e ao desenvolvimento de recursos linguísticos, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento sobre a língua e para a criação de ferramentas que facilitam seu uso e estudo.

No entanto, é importante ressaltar que nem a ABL nem o ILTEC ditam as regras da língua. Seu papel é, antes, o de registrar e sistematizar as normas que já se consolidaram no uso culto da língua. A língua, afinal, é um fenômeno social, e sua evolução depende, em última instância, da interação entre os falantes.

Imagine a língua como um jardim. Gramáticos e lexicógrafos são como jardineiros que cuidam desse jardim, podando os excessos, cultivando as plantas mais robustas e catalogando as espécies presentes. Mas são as sementes trazidas pelo vento, a chuva que irriga a terra e o sol que nutre as plantas que, de fato, determinam o desenvolvimento e a transformação desse jardim.

A dinâmica da língua se manifesta em diversos níveis, desde a incorporação de novas palavras e expressões, muitas vezes provenientes de outras línguas ou de grupos sociais específicos, até a mudança gradual na pronúncia e no significado dos termos já existentes. A internet, com sua velocidade e alcance, tem acelerado ainda mais esse processo, criando novas formas de comunicação e expandindo as possibilidades de interação entre os falantes.

Portanto, a busca por uma autoridade única que dite as regras da língua portuguesa é uma busca infrutífera. A língua é um patrimônio coletivo, construído e reconstruído a cada interação, a cada conversa, a cada texto escrito. Compreender essa dinâmica é fundamental para que possamos utilizar a língua de forma consciente e eficaz, respeitando sua riqueza e diversidade, e reconhecendo que somos todos, em última instância, os responsáveis por sua evolução. E nesse processo contínuo de construção e reconstrução, a norma culta serve como um importante ponto de referência, um farol que nos guia em meio à vastidão do oceano linguístico.