O que mudou na gramática portuguesa?

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O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, vigente desde 2009, promoveu mudanças significativas. Incluiu novas letras no alfabeto, uniformizou o uso de maiúsculas e minúsculas, aboliu o trema e alterou as regras de acentuação e hifenização, modernizando a escrita. Essas alterações impactaram a ortografia e a apresentação textual.

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Muito Além do Acordo Ortográfico: As Mudanças Sutilmente Significativas na Gramática Portuguesa

O Acordo Ortográfico de 1990, em vigor desde 2009 no Brasil, é frequentemente apontado como a principal mudança na gramática portuguesa recente. No entanto, a realidade é mais complexa e abrange transformações que vão além da simples alteração de algumas regras ortográficas. Enquanto o Acordo impactou significativamente a escrita, outras mudanças sutis, mas igualmente importantes, vêm remodelando a língua portuguesa falada e escrita, refletindo as evoluções sociais e tecnológicas.

O Acordo, de fato, trouxe alterações visíveis: a eliminação do trema (exceto em palavras estrangeiras), a simplificação do uso do hífen, a uniformização da acentuação gráfica (como em “ideia” e “enxaguar”) e a inclusão das letras “k”, “w” e “y” no alfabeto. Essas mudanças, embora impactantes para a ortografia e a apresentação textual, não alteraram a estrutura gramatical profunda da língua. O que muda, de forma mais sutil, é a maneira como a gramática é aplicada e percebida na prática.

Uma das transformações mais importantes é a crescente informalidade na língua escrita, impulsionada principalmente pela internet e pelas redes sociais. A gramática normativa, frequentemente ensinada nas escolas, muitas vezes cede espaço para formas mais coloquiais e abreviadas. A utilização de gírias, neologismos e emoticons é cada vez mais comum, mesmo em contextos profissionais, alterando os padrões tradicionais de escrita. Essa mudança, embora não formalmente gramatical, afeta a comunicação escrita de forma profunda, exigindo uma adaptação constante aos novos padrões de linguagem.

Além disso, a influência de outras línguas, principalmente o inglês, continua a enriquecer (e, para alguns, a contaminar) o português. O crescente uso de anglicismos, muitas vezes aportuguesados, introduz novas estruturas sintáticas e semânticas na língua, exigindo uma reflexão constante sobre a preservação da identidade linguística.

Outro aspecto relevante é a evolução da gramática descritiva, que, ao invés de prescrever regras rígidas, busca descrever como a língua é realmente usada. Essa abordagem mais flexível permite uma compreensão mais ampla da diversidade linguística e da variação entre diferentes grupos sociais e regiões. A gramática descritiva não ignora as normas tradicionais, mas contextualiza-as, reconhecendo a legitimidade de diferentes formas de expressão.

Em conclusão, as mudanças na gramática portuguesa não se resumem ao Acordo Ortográfico. A informalidade crescente da linguagem escrita, a influência de outras línguas e a ascensão da gramática descritiva são fatores igualmente relevantes que moldam a língua portuguesa contemporânea. Compreender essas transformações é fundamental para uma comunicação eficaz e para a preservação da riqueza e da dinâmica da nossa língua. A gramática portuguesa está em constante evolução, refletindo a própria evolução da sociedade que a utiliza.