Por que o verbo haver é impessoal?

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O verbo haver, quando expressa existência ou ocorrência, é impessoal por ser defectivo, ou seja, não apresenta conjugação completa em todas as pessoas e modos verbais. Sua impessoalidade se deve a sua origem e desenvolvimento histórico na língua, sendo que a forma há (3ª pessoa singular) se tornou a única forma usada para indicar tempo passado, permanecendo invariável. A impessoalidade se mantém mesmo em orações com o verbo auxiliar.
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A Singularidade do Verbo Haver: Impessoalidade e Existência

O verbo haver no português, em suas nuances, apresenta peculiaridades que o distinguem de outros verbos. Uma de suas características mais marcantes é a sua impessoalidade, um traço gramatical que o coloca em uma categoria à parte, especialmente quando expressa a ideia de existência ou ocorrência de algo. Mas por que o verbo haver assume essa forma impessoal?

A resposta reside em sua trajetória histórica e em seu comportamento gramatical único. Diferente da maioria dos verbos, que se conjugam para concordar com o sujeito da oração, o haver impessoal se mantém inflexível, essencialmente na terceira pessoa do singular. Essa rigidez se manifesta na forma há, que se tornou a representação por excelência da ideia de existir ou ocorrer no passado ou em um tempo indefinido.

A impessoalidade do haver está intimamente ligada à sua natureza defectiva. Um verbo defectivo é aquele que não possui todas as formas de conjugação. No caso do haver impessoal, ele não se flexiona em número para concordar com um sujeito, pois ele simplesmente não o possui. A oração que o contém é classificada como oração sem sujeito, onde o verbo expressa um fato impessoal, uma realidade que independe de um agente específico.

Para ilustrar, comparemos:

  • Verbo pessoal: Eles têm muitos livros. (O verbo ter concorda com o sujeito eles)
  • Verbo impessoal: muitos livros na estante. (O verbo haver permanece invariável, independente da quantidade de livros)

Neste segundo exemplo, muitos livros não funciona como sujeito, mas sim como complemento do verbo haver. A frase expressa a existência desses livros na estante, sem atribuir a ação a um agente específico.

Essa impessoalidade se mantém mesmo quando o verbo haver atua como auxiliar. Por exemplo:

  • Deve haver muitas pessoas na fila.

Aqui, deve é um verbo auxiliar, mas a impessoalidade do haver permanece intocada. A ideia central continua sendo a existência provável de muitas pessoas na fila, e o verbo haver não se flexiona.

É crucial notar que nem sempre o verbo haver é impessoal. Quando utilizado com o sentido de ter ou possuir, ele se comporta como um verbo pessoal e concorda com o sujeito:

  • Eu hei de conseguir meus objetivos. (Neste caso, hei de equivale a terei que e concorda com o sujeito eu).

Em resumo, a impessoalidade do verbo haver quando denota existência ou ocorrência é uma característica intrínseca à sua evolução linguística e à sua função gramatical específica. Sua natureza defectiva, a ausência de sujeito nas orações que o empregam e a sua inflexibilidade na terceira pessoa do singular (há) o tornam uma peça fundamental e singular na rica tapeçaria da língua portuguesa. Entender essa particularidade é essencial para o domínio da norma culta e para a precisão na comunicação escrita e oral.