Por que a linguagem de sinais não é universal?

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A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é um idioma independente do português, assim como o inglês e o espanhol. Cada país possui sua própria língua de sinais, existindo cerca de 200 no mundo. Portanto, a linguagem de sinais não é universal.

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A Torre de Babel Silenciosa: Por que a Linguagem de Sinais não é Universal?

A crença de que existe uma única “linguagem de sinais” universal é um equívoco comum. Ao contrário da ideia de uma língua gestual globalmente compreensível, a realidade é bem mais rica e complexa, revelando uma diversidade linguística tão vasta quanto a das línguas faladas. A própria existência de centenas de línguas de sinais em todo o mundo demonstra a sua natureza específica e profundamente enraizada em contextos culturais locais. Mas por que essa falta de universalidade?

A resposta não se encontra apenas na ausência de um órgão regulador global para as línguas de sinais, mas sim na dinâmica intrínseca à sua evolução e desenvolvimento. Diversos fatores contribuem para a notável diversidade:

  • Influência das línguas locais: Assim como as línguas faladas, as línguas de sinais são influenciadas pelas línguas majoritárias de cada região. No entanto, essa influência não é uma mera tradução visual. A estrutura gramatical, a ordem das palavras e até mesmo a semântica podem ser adaptadas e reinterpretadas, criando sistemas de comunicação visual únicos. A Libras, por exemplo, embora influenciada pelo português, apresenta uma estrutura gramatical completamente distinta, com sua própria sintaxe e morfologia.

  • Isolamento geográfico e comunidades surdas: A formação de comunidades surdas isoladas geograficamente, mesmo que próximas, pode levar ao desenvolvimento de línguas de sinais independentes. A falta de interação entre essas comunidades impede a uniformização da linguagem, permitindo que variações locais se consolidem e evoluam de forma independente.

  • Evolução orgânica da linguagem: As línguas de sinais, assim como as faladas, não são estáticas. Elas evoluem organicamente ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades comunicativas das comunidades surdas. Novas palavras e expressões surgem constantemente, moldadas pelas mudanças culturais e tecnológicas, levando a divergências entre diferentes comunidades, mesmo dentro de uma mesma região.

  • Transmissão e preservação: A transmissão da língua de sinais ocorre principalmente dentro da comunidade surda, de geração a geração. Esta transmissão orgânica, sem a interferência massiva de gramáticas formalizadas e institucionais (ao menos inicialmente), contribui para a formação de dialetos e variações regionais, que ao longo do tempo podem se tornar línguas completamente distintas.

Concluindo, a ausência de uma linguagem de sinais universal não é um defeito, mas sim uma demonstração da riqueza e vitalidade das culturas surdas ao redor do mundo. Cada língua de sinais representa um patrimônio linguístico único, carregando em si a história, a cultura e a identidade de uma comunidade. Reconhecer essa diversidade é essencial para valorizar a inclusão e o respeito à pluralidade linguística, combatendo o mito de uma única e homogênea “linguagem de sinais”. Aprender sobre as diferentes línguas de sinais é uma jornada fascinante que nos permite compreender a incrível capacidade humana de criar e adaptar sistemas de comunicação tão diversos e expressivos.